Arquidiocese de Braga -
26 janeiro 2016
Do Clique ao Toque: expectativas e receios
DACS
Especialistas e diferentes intervenientes falaram abertamente sobre receios e expectativas gerados pelos ambientes digitais.
Realizaram-se neste Sábado, na Faculdade de Teologia, as Jornadas “Do clique ao toque: o diálogo entre a vida e a fé nos dispositivos digitais”, promovidas pelo polo regional de Braga da Universidade Católica Portuguesa (UCP).
A manhã começou com a conferência “Os dispositivos digitais na configuração do crer”, proferida no Auditório São Tomás de Aquino pelo professor Jorge Sierra Canduela, de Santiago de Compostela.
Pelas 11h30 teve lugar o primeiro painel, subordinado ao tema “Redes Sociais Digitais”, com a participação de Bento Oliveira, do projecto iMissio, Luís Silva, do ABC da Catequese e Miguel Mendes, responsável pela página Cristo Jovem.
Já de tarde, pelas 15h00, foi a vez do painel “Identidades e narrativas digitais” se fazer ouvir através da moderação do Professor António Andrade. O padre Marcelino Ferreira do Laboratório da Fé, o padre António Valério, dos projectos Passo a Rezar e Click to Pray, Paulo Rocha, da Agência Ecclesia e o padre Tiago Freitas, do Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Braga, falaram das respectivas iniciativas e de como tem sido a construção das correspondentes identidades digitais.
As Jornadas terminaram com a conferência ”A Igreja na aldeia global”, a cargo do vice-presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença, o padre Américo Aguiar.
Pe. Tiago Freitas: “Transparência, assertividade, proximidade”
Durante a sua intervenção, o padre Tiago Freitas, Director do Departamento Arquidiocesano da Comunicação Social (DACS), descreveu aquele que tem sido o processo de construção e amadurecimento do Departamento desde que o sacerdote assumiu funções, há cerca de ano e meio.
De acordo com o responsável, algumas iniciativas do Departamento têm permitido combater o “anonimato” da diocese, como é o caso da Newsletter semanal "Entre 5 Minutos”. A “linguagem próxima e simples”, aliada a uma informação que o responsável considera ter “transparência, consistência, regularidade e assertividade”, tem permitido a aproximação entre fiéis.
As redes sociais – como é o caso do Facebook – têm também ajudado a “evangelizar e não apenas a comunicar”, funções que o padre Tiago Freitas considera vitais para o Departamento.
Ainda de acordo com o responsável, o caminho percorrido não tem sido fácil. “Quando começámos, e ainda hoje, passámos por tudo aquilo que os novos projectos exigem, incluindo as «dores de crescimento». As pessoas, mesmo as
mais vinculadas à diocese, não
estavam habituadas a que houvesse
um departamento de comunicação” , sublinhou. O padre Tiago Freitas confessou que o DACS ainda hoje se depara com “perplexidades” que vai discutindo internamente mas para as quais ainda não encontrou solução. “Por exemplo, uma coisa que nos preocupa é a «morte da escrita», a incapacidade de os leitores lerem textos longos... E quando é tão importante para a Igreja contar histórias, isso preocupa-nos!”, apontou.
A recente reformulação da página da Arquidiocese, o lançamento do “Kyrios” – uma plataforma que permite simplificar processos – e a cada vez maior aposta em conteúdo multimédia foram outros dos tópicos abordados pelo Director do Departamento, que, ao longo de toda a alocução, fez questão de elogiar a equipa pela qual é responsável.
Pe. Marcelino Ferreira: “A presença implica tudo o que somos”
Já o padre Marcelino Paulo Ferreira, do Laboratório da Fé, que surgiu em 2012, em virtude do Ano da Fé, sublinhou a importância da “presença” no mundo digital e contestou a “falácia” ou “esquizofrenia” da distinção entre “a presença real da presença virtual”. “Não consigo distinguir um âmbito do outro. Não encontro uma separação. É a nossa presença e ela implica tudo aquilo que nós somos, seja em que contexto for”, explicou.
Pe. António Valério: Tempo, um bem precioso
O padre António Valério, das iniciativas Passo a Rezar e Click to Pray, falou por sua vez do esforço de “propor momentos de encontro com Deus no dia-a-dia” – parte da identidade da instituição – através de veículos tecnológicos.
“Quando pensamos em oração, pensamos num intervalo, em estarmos mergulhados num ambiente que favoreça a escuta e o encontro com Deus. A oração deve levar-nos a uma relação de intimidade com Deus. Deslocarmo-nos do ruído, da confusão, e criarmos um ambiente propício à escuta... E uma das coisas que isso exige é tempo”, explicou. António Valério explicou que os dramas actuais da sociedade – trabalhos com cargas horárias elevadas, pouco tempo de qualidade para a família, exaustão – fazem com que muitas pessoas afirmem não ter tempo para levar, problemáticas que estiveram na base da criação dos dois projectos.
Paulo Rocha: Simplificar é a palavra de ordem
O jornalista Paulo Rocha, Director da Agência Ecclesia, começou por dizer que os projectos de comunicação não podem ser “motivo de divisão” na Igreja, mas sim sinónimo de comunhão. As afirmações vieram no seguimento da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, publicada no dia anterior.
Paulo Rocha falou ainda do trabalho que tem sido levado a cabo na agência de notícias, sobretudo no que toca à “simplicidade” que também permite que o leitor tenha mais facilidade de acesso ao conteúdo. “Às vezes temos vontade de escrever mais, com de forma mais artística, mas aquilo que interessa realmente é simplificar”, explicou.
O responsável falou do percurso da Agência e sublinhou ainda a necessidade do jornalismo religioso seguir os mesmos critérios e exigências do generalista.
Pe. Américo Aguiar: “Anunciar com novo ardor”
O vice-presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença, citando as palavras do Papa João Paulo II, afirmou que é necessário anunciar no ambiente digital com “novo ardor, novos métodos e expressões”.
“Com o clique – os métodos e expressões – nunca me preocupei, até porque as novas gerações se adaptam com facilidade a tudo. Preocupo-me mais com o ardor. Será que dos cliques conseguimos originar os toques? Será que as pessoas que recebem o Evangelho quotidiano vão para além disso?”, inquiriu.
Citando a 45ª Mensagem do Papa Bento XVI, o Pe. Américo Aguiar lembrou que esta nova revolução comunicacional, à semelhança daquilo que aconteceu com a industrial, também dará origem a um novo caldo cultural. O responsável fez ainda uma viagem pelos séculos, falando de personalidades indispensáveis ao mundo da comunicação tal como o conhecemos, como Gutenberg, Lutero ou, mais recentemente, McLuhan.
O padre Américo sublinhou ainda uma ideia que já havia sido avançada por outros membros do painel, a necessidade de “trabalhar mais em rede” para “potenciar” reciprocamente os vários projectos no ambiente digital.
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