Arquidiocese de Braga -
31 julho 2016
A Alegria do amor – 15
Carlos Nuno Salgado Vaz
O amor permite escutar sem sons e ver no invisível.
Sem deixar de lado os casamentos mistos, com disparidade de culto – aqueles em que um cônjuge é católico e o outro não-crente – alertando para os desafios peculiares que os mesmos colocam, mas que é possível superar se bem alicerçados no Evangelho, o papa Francisco examina a situação das famílias que têm no seu seio pessoas com tendência homossexual.
E a linha de rumo é de respeito pela sua dignidade, e acolhimento com respeito, sem em nada beliscar a dignidade do desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família. Rejeita aquelas organizações que fazem pressão sobre as igrejas locais condicionando a ajuda financeira à introdução de leis que instituam o que apelidam de «matrimónio» entre pessoas do mesmo sexo.
Morte
A morte de um ser querido constitui muitas vezes um forte desafio à vida familiar. Isso é mesmo lancinante no caso da morte de um filho.
O papa diz compreender as pessoas que, em tais circunstâncias «se chateiam com Deus». Em tais casos, o luto pode durar muito tempo, e as perguntas que os familiares se colocam também inquietam bastante. Mas, «com um caminho sincero e paciente de oração e libertação interior, volta a paz. No luto, há momentos em que é preciso ajudar a descobrir que, embora tenhamos perdido um ente querido, existe ainda uma missão a cumprir e não nos faz bem querer prolongar a tristeza, como se isto fosse uma homenagem. A pessoa amada não precisa da nossa tristeza, nem retém lisonjeiro que arruinemos a nossa vida. E também não é a melhor expressão de amor lembrá-la e nomeá-la a cada momento, porque significa estar preso a um passado que já não existe, em vez de amar a pessoa real que agora se encontra no Além. A sua presença física já não é possível; é verdade que a morte é algo de poderoso, mas 'forte como a morte é o amor'. (Ct 8, 6)».
Acrescenta ainda o papa Francisco: «O amor possui uma intuição que lhe permite escutar sem sons e ver no invisível. Isto não é imaginar o ente querido como era, mas poder aceitá-lo transformado, como é agora». É para esse encontro diferente que a cena de Maria Madalena querendo abraçar intensamente o seu Mestre, pedindo-lhe Ele que O não tocasse, nos transporta. O encontro com quem está na dimensão de Deus é diferente do encontro físico (número 255).
A fé, assegurando-nos que não se verifica a destruição total dos que morrem, porque o Ressuscitado nunca os abandona, ajuda a impedir que morte «envenene a nossa vida e torne vãos os nossos afectos e nos faça cair no vazio mais escuro». Como se diz belamente no prefácio 1 da Missa de Defuntos: «para os que crêem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma».
Os nossos entes querido não desaparecem nas trevas do nada: «a esperança assegura-nos que eles estão nas mãos bondosas e vigorosas de Deus» (256).
Rezar pelos defuntos
Na linha do que o papa emérito Bento XVI afirma na encíclica «Salvos na Esperança», números 47 a 51, o papa Francisco também nos diz que: «uma maneira de comunicarmos com os seres queridos que morreram é rezar por eles», porque «rezar por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão em nosso favor».
Citando o exemplo de alguns santos e sobretudo Santa Teresinha de Lisieux que afirmava ter vontade de «continuar no céu a fazer bem»; ou São Domingos que afirmava «que seria mais útil, depois de morto (…) mais poderoso para obter graças», Francisco apela para que saibamos estreitar os laços de amor, «porque de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a terra com os irmãos que adormeceram na paz de Cristo; mas (…) é reforçada pela comunhão dos bens espirituais» (257).
Amadurecer e crescer
O que de melhor podemos fazer diante da realidade das morte é aceitá-la para nos podermos preparar para ela. «O caminho é crescer no amor para com aqueles que caminham connosco, até ao dia em que 'não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor' (Ap 21, 4). Deste modo, preparar-nos-emos também para reencontrar os nossos entes queridos que morreram. Assim como Jesus entregou à viúva de Nain o filho que tinha morrido (Lc 7, 15), de forma semelhante procederá connosco.
«Não gastemos energias detendo-nos anos e anos no passado. Quanto melhor vivermos nesta terra, tanto maior felicidade poderemos partilhar com os nossos entes queridos no céu. Quanto mais conseguirmos amadurecer e crescer, tanto mais poderemos levar-lhes coisas belas para o banquete celeste» (258).
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