Arquidiocese de Braga -
14 agosto 2016
A alegria do amor - 17
Carlos Nuno Salgado Vaz
A vida virtuosa constrói a liberdade, fortifica-a e educa-a.
Tendo sido educador e formador de educadores, encontrei nas reflexões do sétimo capítulo da «Alegria do Amor» do Papa Francisco reflexões, sugestões e indicações que me ajudaram a amadurecer e aperfeiçoar o que pensava saber sobre educação.
Há tanta pedagogia nas palavras do Papa que creio será útil que todos pensemos nas suas reflexões, sobretudo os educadores por excelência que os pais são chamados a ser.
Ter em conta a necessidade de amadurecer e aperfeiçoar hábitos é uma das ideias mestras destas reflexões. Com efeito: «O fortalecimento da vontade e a repetição de determinadas ações constroem a conduta moral; mas, sem a repetição consciente, livre e elogiada de determinados comportamentos bons, nunca se chega a educar tal conduta. As motivações ou a atracção que sentimos por um determinado valor, não se tornam uma virtude sem estes atos adequadamente motivados» (266).
Educar
A educação moral «é cultivar a liberdade através de propostas, motivações, aplicações práticas, estímulos, prémios, exemplos, modelos, símbolos, reflexões, exortações, revisões do modo de agir e diálogos que ajudem as pessoas a desenvolver aqueles princípios interiores estáveis que movem a praticar espontaneamente o bem. A virtude é uma convicção que se transformou num princípio interior e estável do agir».
É com uma vida realmente virtuosa no seu sentido mais profundo que se constrói de verdade a liberdade. Aliás: «a própria dignidade humana exige que cada um proceda segundo a própria consciência e por livre adesão, ou seja, motivado e induzido pessoalmente desde dentro», como refere o Vaticano II (267).
Aquilo que, hoje, nos parece evidente – proceder segundo a própria consciência e por livre adesão, movido desde dentro – faltou tanto na educação do passado e ainda está tão ausente de tantos educadores!
Corrigir
Os educandos não são santos. Falham, e as falhas devem ser corrigidas, mas não de qualquer maneira, e jamais para destilar sobre eles toda a agressividade e ira.
«Um filho que comete uma má ação deve ser corrigido, mas nunca como inimigo, ou como alguém sobre quem se descarrega a própria agressividade. (…) e seria nociva uma atitude constantemente punitiva» (269).
A disciplina não se pode transformar numa mutilação do desejo. Pelo contrário, deve ser um estímulo a ir sempre mais além.
E «é preciso saber encontrar um equilíbrio entre dois extremos igualmente nocivos: um seria pretender construir um mundo à medida dos desejos do filho, que cresceria sentindo-se sujeito de direitos, mas não de responsabilidades; o outro extremo seria levá-lo a viver sem consciência da sua dignidade, da sua identidade singular e dos seus direitos, torturado pelos deveres e submetido à realização dos desejos alheios» (270).
Há que proceder por pequenos passos, sabendo que só algumas pessoas muito exemplares cumprem os valores, mas que também se realizam de forma imperfeita e em diferentes graus.
É preciso ajudar os jovens a percorrer um itinerário de cura do seu mundo interior ferido, «para poderem ter acesso à compreensão e à reconciliação com as pessoas e com a sociedade» (272).
Processo gradual
A proposta de valores tem de ser feita pouco a pouco, e avançando de maneira diferente segundo a idade e as possibilidades concretas das pessoas «sem pretender aplicar metodologias rígidas e imutáveis».
Como bem mostram a boa pedagogia e a psicologia da educação, «é preciso um processo gradual para se conseguir mudanças de comportamento e também que a liberdade precisa de ser orientada e estimulada, porque, abandonando-a a si mesma, não se garante a sua maturação. A liberdade efetiva, real, é limitada e condicionada. Não é uma pura capacidade de escolher o bem, com total espontaneidade».
Isto porque nem sempre um acto voluntário é um ato livre. Pode-se querer muito uma coisa – por exemplo, a droga – mas não o fazer livremente, tal o condicionamento em que a pessoa se encontra. Na hora, não é capaz de fazer outra escolha. Não é realmente livre, mesmo querendo tanto essa coisa. A sua decisão é voluntária, mas não é livre. «Não tem sentido deixá-lo escolher livremente, porque, de facto, não pode escolher, e expô-lo à droga só aumenta a dependência. Precisa da ajuda dos outros e de um percurso educativo» (273).
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