Arquidiocese de Braga -

12 outubro 2016

Leituras para XXIX Domingo do Tempo Comum, Ano C - 16 Outubro 2016

Fotografia

Paróquia da Lapa

“E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo?”

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AMBIENTE - Primeira Leitura

A primeira leitura de hoje situa-nos no contexto da caminhada dos hebreus pelo deserto (antes da entrada na Terra Prometida) e no quadro de um confronto violento entre os hebreus e um grupo de habitantes do deserto.
Os inimigos que, neste episódio, os hebreus tiveram de enfrentar são designados como “Amalek”. As listas de Gn 36,12.16 ligam-nos à descendência de Esaú, o que os torna etnicamente aparentados com os hebreus… Seja como for, trata-se de tribos nómadas, violentas e agressivas (Dt 25,17-19 faz referência a uma emboscada montada pelos amalecitas aos hebreus em marcha pelo deserto e ao assassínio de alguns membros da comunidade do Povo de Deus que, sedentos e esgotados, caminhavam na retaguarda da coluna), que habitavam o Negev (cf. Nm 13,29; Jz 1,16) e que se opuseram, desde o início, à penetração israelita na Terra Prometida. Mais tarde, estes mesmos amalecitas aparecerão como adversários de Saúl (cf. 1 Sm 15) e de David (cf. 1 Sm 30). Para os hebreus, são os inimigos por excelência. Segundo a Melkhita sobre o Êxodo, rabi Eliézer dizia: “Deus jurou pelo trono da sua glória que, se qualquer uma das nações viesse para se fazer prosélita, seria recebida; mas Amalek nunca seria recebida na sua casa”.
Para entendermos cabalmente o texto que aqui nos é proposto, convém ainda recordar que as tradições sobre a libertação (Ex 1-18) têm como objectivo primordial fazer uma catequese sobre o Deus libertador, que salvou o seu Povo da opressão e da morte, que o fez atravessar a pé enxuto o mar Vermelho e o encaminhou através do deserto… Não interessa aqui a reportagem jornalística do acontecimento; importa a catequese sobre esse Deus a quem Israel é convidado – pela história fora – a agradecer a sua vida e a sua liberdade.

AMBIENTE - Segunda Leitura

A segunda leitura oferece-nos, mais uma vez, um trecho da Segunda Carta a Timóteo. Recordamos (outra vez) que a redacção desta carta deve ser colocada nos finais do séc. I ou princípios do séc. II, numa altura em que as comunidades cristãs se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes e as falsas doutrinas… O autor desta carta pretende convidar os crentes em geral (e os animadores das comunidades, em particular) a redescobrirem o entusiasmo pelo Evangelho e a defenderem-se de tudo aquilo que punha em causa a verdade recebida de Jesus, através dos apóstolos.

AMBIENTE - Evangelho

O Evangelho apresenta-nos mais uma etapa do “caminho de Jerusalém”. O texto que hoje nos é proposto vem na sequência do discurso escatológico sobre a vinda gloriosa do Filho do Homem (cf. Lc 17,20-37). A parábola do juiz e da viúva deve, pois, ser entendida neste ambiente.
Trata-se de um texto que não tem paralelo noutro evangelista; no entanto, é similar à parábola do amigo importuno que vem pedir pão a meio da noite e que é atendido por causa da sua insistência (cf. Lc 11,5-8).
Não esqueçamos que Lucas escreveu o terceiro Evangelho durante a década de 80… É uma época em que as comunidades cristãs sofrem por causa da hostilidade dos judeus e dos pagãos e em que já se anunciam as grandes perseguições que dizimaram as comunidades cristãs no final do séc. I. Os cristãos estão inquietos, desanimados e anseiam pela segunda vinda de Cristo – isto é, pela intervenção definitiva de Deus na história para derrotar os maus e salvar o seu Povo.

MENSAGEM 

O nosso texto consta de uma parábola e da sua aplicação teológica.
Os personagens centrais da parábola (vers 2-5) são uma viúva e um juiz. A viúva, pobre e injustiçada (na Bíblia, é o protótipo do pobre sem defesa, vítima da prepotência dos ricos e dos poderosos), passava a vida a queixar-se do seu adversário e a exigir justiça; mas o juiz, “que não temia Deus nem os homens”, não lhe prestava qualquer atenção… No entanto, o juiz – apesar da sua dureza e insensibilidade – acabou por fazer justiça à viúva, a fim de se livrar definitivamente da sua insistência importuna.
Apresentada a parábola, vem a sua aplicação teológica (vers. 6-8). Se um juiz prepotente e insensível é capaz de resolver o problema da viúva por causa da sua insistência, Deus (que não é, nem de perto nem de longe, um juiz prepotente e sem coração) não iria escutar os “seus eleitos que por Ele clamam dia e noite e iria fazê-los esperar muito tempo?”
Naturalmente, estamos diante de uma pergunta retórica. É evidente que, se até um juiz insensível acaba por fazer justiça a quem lhe pede com insistência, com muito mais motivo Deus – que é rico em misericórdia e que defende sempre os débeis – estará atento às súplicas dos seus filhos.
Dado o contexto em que a parábola aparece, é certo que Lucas pretende dirigir-se a uma comunidade cristã cercada pela hostilidade do mundo, que começava a ver no horizonte próximo o espectro das perseguições e que estava desanimada porque, aparentemente, Deus não escutava as súplicas dos crentes e não intervinha no mundo para salvar a sua Igreja. A resposta que Lucas deixa aos seus cristãos é a seguinte: ao contrário do que parece, Deus não abandonou o seu Povo, nem é insensível aos seus apelos; Ele tem o seu projecto, o seu plano e o seu tempo próprio para intervir… Aos crentes resta moderar a sua impaciência e confiar em que Ele não deixará de intervir para os libertar.
Que é que tudo isto tem a ver com a oração? Porque é que esta é uma parábola sobre a necessidade de rezar (“Jesus disse-lhes uma parábola sobre a necessidade de orar sempre, sem desanimar” – vers. 1)? Lucas pede aos cristãos a quem a mensagem se destina que, apesar do aparente silêncio de Deus, não deixem nunca de dialogar com Ele. É nesse diálogo que entendemos os projectos e os ritmos de Deus; é nesse diálogo que Deus transforma os nossos corações; é nesse diálogo que aprendemos a entregar-nos nas mãos de Deus e a confiar n’Ele. Sobretudo, que nada (nem o desânimo, nem a desconfiança perante o silêncio de Deus) nos leve a desistir de uma verdadeira comunhão e de um profundo diálogo com Deus.

ACTUALIZAÇÃO

Na reflexão, podem ser considerados os seguintes aspectos:

• Porque é que Deus permite que tantos milhões de homens sobrevivam em condições tão degradantes? Porque é que os maus e injustos praticam arbitrariedades sem conta sobre os mais débeis e nenhum mal lhes acontece? Como é que Deus aceita que 2.800 milhões de pessoas (cerca de metade da humanidade) vivam com menos de três euros por dia? Como é que Deus não intervém quando certas doenças incuráveis ameaçam dizimar os pobres dos países do quarto mundo, perante a indiferença da comunidade internacional? Onde está Deus quando as ditaduras ou os imperialismos maltratam povos inteiros? Deus não intervém porque não quer saber dos homens e é insensível em relação àquilo que lhes acontece? É a isto que o Evangelho de hoje procura responder… Lucas está convicto de que Deus não é indiferente aos gritos de sofrimento dos pobres e que não desistiu de intervir no mundo, a fim de construir o novo céu e a nova terra de justiça, de paz e de felicidade para todos… Simplesmente, Deus tem projectos e planos que nós, na nossa ânsia e impaciência, não conseguimos perceber. Deus tem o seu ritmo – um ritmo que passa por não forçar as coisas, por respeitar a liberdade do homem… A nós resta-nos respeitar a lógica de Deus, confiar n’Ele, entregarmo-nos nas suas mãos.

• Para que Deus e os seus projectos façam sentido ou, pelo menos, para que a aparente falta de lógica dos planos de Deus não nos lancem no desespero e na revolta, é preciso manter com Ele uma relação de comunhão, de intimidade, de diálogo. Através da oração, percebemos quem Deus é, percebemos o seu amor e a sua misericórdia, descobrimos a sua bondade e a sua justiça… E, dessa forma, constatamos que Ele não é indiferente à sorte dos pobres e que tem um projecto de salvação para todos os homens. A oração é o caminho para encontrarmos o amor de Deus.

• O diálogo que mantemos com Deus não pode ser um diálogo que interrompemos quando deixamos de perceber as coisas ou quando Deus parece ausente; mas é um diálogo que devemos manter, com perseverança e insistência. Quem ama de verdade, não corta a relação à primeira incompreens&ati
lde;o ou à primeira ausência. Pelo contrário, a espera e a ausência provam o amor e intensificam a relação.

• A oração não é uma fórmula mágica e automática para levar Deus a fazer-nos as “vontadinhas”… Muitas vezes, Deus terá as suas razões para não dar muita importância àquilo que Lhe pedimos: às vezes pedimos a Deus coisas que nos compete a nós conseguir (por exemplo, passar nos exames); outras vezes, pedimos coisas que nos parecem boas, mas que a médio prazo podem roubar-nos a felicidade; outras vezes, ainda, pedimos coisas que são boas para nós, mas que implicam sofrimento e injustiça para os outros… É preciso termos consciência disto; e quando parece que Deus não nos ouve, perguntemos a nós próprios se os nossos pedidos farão sentido, à luz da lógica de Deus.

Por gentileza dos irmãos Dehonianos - podem consultar no site indicado abaixo.

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
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