Arquidiocese de Braga -
1 julho 2019
Vaticano rejeita pressões para levantar segredo da Confissão
DACS com Vatican News/Agência Ecclesia
“Qualquer acção política ou iniciativa legislativa que vise forçar a inviolabilidade do sigilo sacramental” constituiria uma “ofensa inaceitável” contra a liberdade da Igreja e “uma violação da liberdade religiosa”, diz a Santa Sé.
O Vaticano publicou hoje um novo documento sobre o segredo de Confissão, a que está obrigado qualquer membro do clero católico, considerando que este sigilo não pode ser anulado por pressões políticas ou jurídicas.
A nota do Tribunal da Penitenciaria Apostólica considera que “qualquer acção política ou iniciativa legislativa que vise forçar a inviolabilidade do sigilo sacramental” constituiria uma “ofensa inaceitável” contra a liberdade da Igreja e “uma violação da liberdade religiosa”, incluindo a liberdade de consciência dos cidadãos em causa, tanto penitentes como confessores.
O texto divulgado esta Segunda foi aprovado pelo Papa Francisco a 21 de Junho de 2019 e é assinado pelo cardeal Mauro Piacenza, penitenciário-mor, e pelo monsenhor Krzysztof Nykiel, regente do Tribunal.
O tema foi objecto de discussão na Austrália e no Chile, por exemplo, onde as autoridades queriam impor a obrigatoriedade de denúncia às autoridades de abusos sexuais de menores reportados durante o sacramento da Confissão, algo rejeitado pela Igreja Católica.
A nota do Vaticano assinala que a defesa do sigilo sacramental e da Confissão “nunca poderão constituir qualquer forma de conivência com o mal”, mas observa que não pode aceitar como condição de absolvição a obrigação de alguém se denunciar à justiça civil, em virtude do princípio nemo tenetur se detegere – o direito de não produzir prova contra si mesmo.
“Pertence à própria estrutura do Sacramento da Reconciliação, como condição para a sua validade, o sincero arrependimento, juntamente com o firme propósito de emendar e não reiterar o mal cometido”, afirma o Tribunal.
A Penitenciaria Apostólica informa também que, perante um penitente que tenha sido vítima do mal dos outros, “será do interesse do confessor instruí-lo sobre os seus direitos”, bem como sobre os instrumentos jurídicos para denunciar os factos no foro civil ou eclesiástico.
O texto visa promover uma “melhor compreensão” de conceitos próprios da comunicação eclesial, como “o sigilo sacramental, a confidencialidade inerente ao foro interno extra-sacramental, o segredo profissional, os critérios e os limites próprios de qualquer outra comunicação”.
“É necessário reaprender o poder da palavra, o seu poder construtivo, mas também o seu potencial destrutivo; devemos vigiar para que o sigilo sacramental nunca seja violado por ninguém e que a necessária confidencialidade ligada ao exercício do ministério eclesial seja sempre zelosamente preservada, tendo como único horizonte a verdade e o bem integral das pessoas”, aponta a Santa Sé.
A nota adverte ainda para um potencial uso errado das informações próprias da vida privada, social e eclesial, que se podem transformar numa “ofensa contra a dignidade da pessoa e a própria Verdade, que é sempre Cristo, Senhor e Cabeça da Igreja”.
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