Arquidiocese de Braga -

3 setembro 2021

Leiga assume comunicação dos Bispos franceses

Fotografia Marion Delattaignant/CEF

DACS com La Croix International

A nova directora de comunicação da Conferência Episcopal da França diz que irá incentivar os líderes da Igreja Católica a falar mais livremente.

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Karine Dalle trabalhou durante cinco anos no departamento de comunicação da Arquidiocese de Paris.

Originalmente pensou que o seu trabalho envolveria tornar a vida da Igreja mais conhecida e promover eventos religiosos como a Quaresma e os principais feriados, como o Natal e a Páscoa. Mas acabou a ter que gerir a comunicação de crise relacionada com questões como abusos sexuais e o incêndio devastador que quase destruiu a Catedral de Notre-Dame.

Dalle, que tem formação em Marketing, assumiu o seu cargo na Arquidiocese depois de trabalhar 18 anos em empresas americanas como como a Gillette e a Universal.

Agora deslocou-se até à margem esquerda do Rio Sena na sua scooter para assumir as funções de directora de comunicações e secretária-geral adjunta da Conferência Episcopal de França (CEF). É uma das poucas mulheres neste nível de governação na Igreja.

 

Uma mulher com uma voz forte

Esguia, mas com uma voz viva, não mede as palavras.

“Eu sei como abrir a boca, às vezes até demais”, admitiu Dalle, que se descreve como “trabalhadora”.

É certo que, quando a Catedral de Notre-Dame estava em chamas, chorava dia e noite enquanto respondia a jornalistas de todo o mundo.

Dalle, de 48 anos, nasceu numa família católica praticante e cresceu na região de Vosges, no Leste da França, e depois em Lyon. Aos 18 anos, matriculou-se na ESSCA, uma das universidades de administração de empresas mais prestigiadas da França.

A sua entrada no mundo do trabalho, curiosamente, começou com um seminário profissional em Roma. Além da sua carreira, Dalle teve uma vida pessoal gratificante: uma proposta de casamento nas margens do Lago Annecy, há 22 anos, gerou uma família com três filhos.

E a sua vida de fé?

“Tenho perguntado a Deus onde Ele está, procuro por Ele, faço perguntas desde que era criança, e desde então que O encontrei”, confidenciou. Não haveria mais nada a acrescentar se os amigos, a paróquia e a memória da avó que frequentava regularmente o Carmelo de Lisieux não tivessem sido o solo desta fé enraizada no corpo e no coração.

 

Comunicação de crise

Sem dúvida: qualquer mulher que tentasse ser directora de comunicação de uma centena de bispos teria que ter uma fé forte.

“Como mulher, nunca fui tão respeitada no meu trabalho como sou na Igreja”, disse. Durante o almoço no final das reuniões do conselho pastoral em Paris, era com frequência a única mulher à mesa, sentada à direita do arcebispo Michel Aupetit.

“Eu sou feminista, mas recuso-me a aceitar condenações que querem destruir os homens”, explicou Dalle, que também dirige uma associação que ajuda crianças no Vietname e na Mongólia.

Transbordando de energia, tem experiência em lidar com jornalistas. No seu novo cargo, terá que lidar com a publicação do relatório da Comissão Independente sobre Abuso Sexual na Igreja (CIASE) em Outubro.

“Vejo isso como uma boa notícia. É um relatório necessário, solicitado pela Igreja. A pedocriminalidade é grave, intolerável, abominável. Queremos falar a verdade e fazer da Igreja um lugar seguro para os nossos filhos”, insistiu a nova directora de comunicações da CEF.

Ao invés do seu predecessor, Vincent Neymon, Dalle não é a porta-voz da Conferência Episcopal.

“A palavra vai primeiro para o presidente da CEF, o arcebispo Eric de Moulins-Beaufort, e depois para o secretário-geral, o padre Hugues de Woillemont”, disse, enquanto encoraja todos os bispos manifestarem-a se.

Mesmo correndo o risco de haver dissonância?

“Numa família, nem todos falamos a uma só voz! Que todos falem: se não há liberdade de expressão, não pode haver comunhão…”, afirmou.

Artigo de Christophe Henning, publicado no La croix International a 2 de Setembro de 2021.