Arquidiocese de Braga -

22 setembro 2021

Em memória de Bernard Sesboüé

Fotografia DR

DACS com Settimana News

Teólogo e sacerdote jesuíta Bernard Sesboüé faleceu aos 92 anos.

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Bernard Sesboüé nasceu em 1929, a cerca de vinte quilómetros da conhecida Abadia beneditina de Solesmes, numa família muito ligada ao catolicismo. Obteve o bacharelato no Lyceum Notre-Dame-de-Sainte-Croix em Le Mans e a licenciatura em literatura clássica na Sorbonne.

Em 1948 entrou na Companhia de Jesus, no noviciado de Laval. Recebeu a ordenação sacerdotal em Setembro de 1960 em Saint-Leu-d’Esserent do Cardeal Maurice Feltin, Arcebispo de Paris.

Passou um ano em Paray-le-Monial e depois partiu para Roma em 1962, quando começou o Concílio Vaticano II, para preparar a sua tese de doutoramento sobre Basílio de Cesareia. Conheceu os grandes teólogos da época, presentes em Roma para acompanhar a obra conciliar: de Rahner a Ratzinger, de Küng a De Lubac, de Chenu a Congar, e apaixonou-se pelo estudo dos Padres Gregos e Latinos.

Em 1964, ensinou patrística e dogmática na Faculdade Jesuíta de Fourvière (Lyon). Em seguida, tornou-se professor no Centro dos Jesuítas de Sèvres, em Paris, de 1974 a 2006. Foi membro da Comissão Teológica Internacional de 1981 a 1986.

Especialista em ecumenismo, de 1967 a 2007 participou no grupo católico-protestante de Dombes, abadia trapista a nordeste de Lyon, da qual se tornou co-presidente. Foi consultor do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Em 2011 recebeu o prémio “Cardeal Grente” da Academia Francesa por todas as suas obras, que são realmente muitas a partir de 1975, altura em que publica “O Evangelho na Igreja – A tradição viva da fé”. São quase quarenta obras e tocam nas questões mais importantes da teologia dogmática, patrística e ecuménica.

Em 1988 foi publicado o livro “Reconciliados com Cristo” e, em 1990, “Por uma teologia ecuménica: Igreja e Sacramentos, Eucaristia e Ministérios, a Virgem Maria”.

De considerável importância é a “História dos Dogmas” (1994-1996), que é seguida pela publicação de “Não tenhais medo! Os ministérios de hoje na Igreja”, que abre extensas discussões no mundo católico. Em 1999 foi lançado “Crer, Convite à fé católica para as mulheres e homens do século XXI”.

O seu grande inspirador, o conhecido teólogo jesuíta alemão da Floresta Negra, Karl Rahner, é estudado com perspicácia e profundidade desde a sua publicação em 2001.

“A Teologia no século XX e o futuro da fé” surgiu em 2007: era impressionante a vastidão do conhecimento teológico de Bernard Sesboüé, que, em 2013, abordou o espinhoso e polémico problema da infalibilidade da Igreja: “História e teologia da infalibilidade da Igreja” (2013).

O teólogo, seguindo a espiritualidade dos jesuítas, é apaixonado pela figura de Jesus Cristo e opõe-se à onda de difamação que o torna um personagem extravagante. Assim, em 2006, lança “O Código Da Vinci explicado aos seus leitores”. Iluminador e fascinante ao mesmo tempo, “Jesus, aqui está o homem”, de 2016.

Em 2017, participa nas comemorações do 500º aniversário da Reforma de Lutero com “A questão das indulgências. Uma proposta à Igreja Católica”

Bernard Sesboüé era de uma simplicidade desarmante. Erudito rigoroso e meticuloso, gostava de conversar com qualquer pessoa com estima e carinho, abordando temas que ainda o fascinavam. Claro, queria uma Igreja mais sinodal e ministerial na esteira do novo rumo do Papa Francisco, por quem tinha grande simpatia. Ecumenicamente muito activo, confessou-me, caminhando pelas ruas de Paris, que era chegado o tempo da Primavera, depois de um Inverno frio.

Foi um dos grandes teólogos “conciliares”, considerado pelo próprio Congar uma das vozes teológicas mais eloquentes.

 

Artigo de Francesco Strazzari, publicado em Settimana News a 22 de Setembro de 2021.