Arquidiocese de Braga -

25 outubro 2021

Católicos em França analisam funerais presididos por leigos

Fotografia Mayron Oliveira / Unsplash

DACS com La Croix International

Leigos presidem a funerais católicos há meio século em França, mas alguns agora perguntam-se se trazer padres de volta ajudará aos esforços de evangelização.

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“Obrigado, foi uma missa muito bonita!”. Quantas vezes é que os leigos que presidem aos funerais da igreja ouviram este elogio?

Devem então esclarecer que não era uma missa, porque não havia sacerdote, nem Eucaristia. Em vez disso, foi uma celebração litúrgica presidida por um católico que foi encarregado, não ordenado.

Pessoas leigas podem presidir a funerais porque, ao contrário dos casamentos, não são um sacramento. Para evitar confusão, a maioria dos leigos envolvidos não usa uma alva, mas uma cruz bem visível.

 

Em resposta à escassez de padres

Foi apenas há meio século, a 26 de Novembro de 1971, que a Congregação para o Culto Divino deu aos bispos franceses permissão para os leigos presidirem funerais, se a necessidade pastoral assim o exigisse.

Face à redução do número de padres em França, este recurso aos leigos foi-se difundindo gradualmente. Acelerou no início dos anos 2000.

Isto é particularmente verdadeiro nas áreas rurais, onde há distâncias maiores a percorrer. Há mais padres para presidirem a funerais nas cidades maiores, mas os leigos ainda são os que frequentemente se encontram com a família para preparar o serviço.

“Tendo o seu tempo consumido pelo ministério sacramental, os padres de certa forma abandonaram o campo dos funerais”, resume o sociólogo Tanguy Chatel, co-fundador do “think tank” Cercle Vulnérabilités et Société.

“A teologia católica é tão focada na morte e ressurreição que pode ser surpreendente que os padres estejam praticamente ausentes neste momento crucial”, diz.

Muitas famílias dizem que apreciam ter leigos a presidir aos funerais porque podem relacionar-se e confiar neles mais facilmente. Mas outros reclamam que a ausência de um padre é como um funeral de “segunda classe” ou apenas uma celebração “quase” religiosa.

 

Funerais presididos por leigos são válidos

Às vezes, o desejo por um funeral tradicionalmente presidido por um padre é tão forte que as famílias enlutadas são enganadas por “padres falsos” que dão os seus serviços a contratar!

“Quando lhes é explicado, as famílias entendem que um serviço presidido por um leigo é igualmente válido”, garante Rémy Kauffmann, ex-director do ministério funerário da Diocese de Nanterre.

“O principal critério é se a comunhão será significativa para a congregação presente naquele dia. Mesmo que o falecido fosse um católico praticante, se nenhum dos seus parentes pretende comungar, não há razão para justificar uma celebração eucarística”, insiste.

Nos últimos anos, alguns padres – especialmente os mais jovens, dos novos movimentos – promoveram um renascimento de funerais presididos pelo clero. Eles vêem a missa fúnebre como um “lugar oportuno para a evangelização”.

Mas Tanguy Chatel, o sociólogo, diz que essa tendência é apenas um “tremor” e não está nem perto de um terramoto.

“Não posso quantificar, mas parece ser mais uma tendência das cidades e de certas áreas menos seculares”, diz.

Chatel insiste que a formação é de extrema importância, tanto para os leigos, quanto para os sacerdotes.

“No seminário, os futuros padres não são formados para acompanhar as pessoas que estão no fim da vida, nem para lidarem com o luto”, afirma.“Quanto aos leigos, por falta de formação, alguns adoptam posturas dogmáticas que os fazem sentir-se seguros, impondo um quadro muito estrito sem entrarem em diálogo com as famílias”, explicou.

Chatel está convencido de que muitas dioceses “não mediram essa necessidade” de formação. E exorta a Igreja na França a resolver a situação imediatamente.

Isto está a tornar-se ainda mais urgente por razões demográficas. Nos próximos anos, espera-se que a França registe um grande aumento no número de mortes.

Enquanto cerca de 600 mil pessoas morreram em 2020, esse número deverá ultrapassar as 750 mil daqui a vinte anos.

Artigo de Mélinée Le Priol, publicado no La Croix International a 23 de Outubro de 2021.