Arquidiocese de Braga -
25 novembro 2021
O engenheiro francês que se tornou um frade do South Bronx
DACS com La Croix International
Novo documentário conta a comovente história de um jovem engenheiro francês que desistiu de uma carreira lucrativa para se juntar aos Franciscanos da Renovação a fim de servir os pobres e destituídos.
“Amo os pobres. Sempre amei os pobres. E agora são a minha vida”.
Conheça o Irmão François, membro dos Frades Franciscanos da Renovação. Sozinho num ambiente íntimo e despojado, o francês de 30 anos não se tenta entregar a elevadas considerações teológicas.
Em vez disso, as suas palavras são simples, humildes e profundas, reflectindo a natureza radical da sua vida.
O cineasta Arnaud Fournier Montgieux transporta-nos até à vida de François no documentário Irmão, que estreou na quarta-feira numa centena de cinemas de França.
Por que é que este jovem engenheiro ferroviário, formado pela prestigiada École Centrale, com um futuro promissor e brilhante, decidiu deixar tudo em França para abraçar uma vocação religiosa noutro continente?
Que laços aprendeu a criar nos últimos anos com as pessoas desfavorecidas que encontra todos os dias num gueto em Newark, uma das cidades mais pobres de Nova Jersey?
E como é que se sente agora em relação à vida em comunidade com os outros Frades da Renovação, essa ramificação dos Capuchinhos que muitos conhecem simplesmente como os “Franciscanos do Sul do Bronx”?
Violência social
Distribuição de ajuda alimentar, acompanhamento espiritual, celebrações e orações, visitas ao exterior...
Durante uma hora e um quarto, o filme apresenta uma imersão sensível e delicada na vida quotidiana de François.
Retrata com precisão a realidade crua de um dos bairros mais desfavorecidos da América, “onde a polícia às vezes já nem vai”.
Este subúrbio periférico da cidade de Nova Iorque, que foi palco de violentos distúrbios raciais no final dos anos 1960, ainda é hoje atormentado pela violência social, gangues e tráfico de drogas.
À medida que o Irmão François se desloca, somos presenteados com toda uma galeria de retratos de pessoas marginalizadas, das quais ele se tornou amigo.
Lá está Roberto, aliás “Touch”, com ombros largos e corpo tatuado, o boné bem enterrado na sua cabeça. Sem hesitar, fala da sua vida turbulenta enquanto criança e adolescente que cresceu na rua. “Touch” tinha apenas 14 anos quando foi preso pela primeira vez. Foi por assalto à mão armada e sequestro.
“Cresci como um assassino”, diz o homem que passou mais de dez anos atrás das grades, antes de assentar após o nascimento do seu filho prematuro.
Depois há Ryan, que cometeu uma série de assaltos para alimentar o seu vício em heroína, antes de finalmente se converter depois “doze anos de devassidão”. A sua mãe, uma ex-prostituta, morreu de cancro no pâncreas num centro de reabilitação enquanto ele estava na prisão.
Há também um homem com olhar abatido que foi procurar conforto na comunidade, confidenciando a morte da sua filha de quatro meses.
Sensibilidade para a arte
Irmão é pontuado por canções tocadas pelos frades como cantores e músicos, que evidenciam o amor dos Franciscanos pelas artes. François, em particular, esculpe e desenha.
“Ele faz retratos das pessoas que visita nas suas casas, também é uma forma de comunicação”, disse Fournier Montgieux ao La Croix.
O director, que era amigo de François antes de este se juntar aos Franciscanos, disse que se emocionou com “a sensibilidade da comunidade às artes, que rompe com a imagem monástica em que estão presentes, mas de forma bastante contemplativa”.
Durante o mês de filmagens no local, explica o quanto a “relação especial dos Franciscanos com o tempo” o atraiu, “entre a hiperactividade com os pobres e o tempo precioso de oração e renovação”, longe da agitação do mundo urbano. É um equilíbrio, porém, que às vezes é difícil de encontrar.
“Não escolhemos viver juntos. Viemos dos quatro cantos do mundo e existe um chamamento que vai além de nós e nos uniu”, explica o Irmão François.
Faz uma pausa e depois diz: “A vida em comunidade é uma vacina contra o egoísmo, contra o orgulho”.
Artigo original de Malo Tresca, publicado no La croix International a 18 de Novembro de 2021.
Partilhar