Arquidiocese de Braga -
18 janeiro 2022
D. Mario Grech: "Quem tem medo de mudar, ou de crescer, não conhece a história da Igreja"
DACS
Secretário do Sínodo dos Bispos participou ontem num webinar promovido pelos Católicos em Rede e intitulado “Sinodalidade da Igreja para a Vida Contemplativa Espanhola”.
O Cardeal Mario Grech participou ontem num webinar promovido pelos Católicos em Rede e intitulado “Sinodalidade da Igreja para a Vida Contemplativa Espanhola”.
O Secretário do Sínodo dos Bispos começou por dizer que as informações que têm chegado ao Vaticano revelam que “o caminho sinodal está a ter realizações muito interessantes”, com uma verdadeira participação de toda a Igreja.
“Pedimos a cada Conferência Episcopal para nomear uma equipa ou pessoa de referência e os dados de que dispomos dizem-nos que 97% das Conferências o fizeram. Temos indicações mesmo muito, muito positivas”, afirmou.
Dirigindo-se aos Contemplativos e Contemplativas que assistiam à reflexão, D. Mario afirmou que a Vida Contemplativa é um memorial para a Igreja no processo sinodal.
“Não pode existir uma Igreja Sinodal se não recuperarmos esta dimensão contemplativa, que tem de ser de todos os baptizados. Todos somos convidados a fazer esta viagem santa como comunidade eclesial. Uma igreja sinodal é um povo que caminha em conjunto para comunicar a alegria do Evangelho. O nosso Deus é um Deus que caminha connosco”, defendeu.
O Secretário acrescentou que o povo de Deus é chamado a ler sinodalmente os sinais dos tempos à luz do Evangelho, mas também é convocado a ler o Evangelho à luz dos sinais dos tempos.
Quem tem medo de mudar, ou de crescer, não conhece a história da Igreja, que é dinâmica, não é estática.
“É importante que todos os baptizados possam adquirir este olhar contemplativo. Para podermos fazer esta leitura, precisamos do dom do Espírito Santo. Muitas vezes, o Papa Francisco insiste que o Sínodo é um espaço protegido onde a Igreja vive a acção do Espírito Santo. No Sínodo, o Espírito fala através das palavras de cada pessoa, é um Espírito que surpreende. Mas só o é se nós, participantes, nos revestirmos deste espírito contemplativo”, explicou.
Lembrando as palavras do Santo Padre, que recentemente explicou os riscos de quem não ouve o Espírito Santo, D. Mario reiterou que uma Igreja sinodal é uma Igreja em diálogo que escuta o que diz o Espírito.
“Um Sínodo não é um parlamento. Não é procurar a maioria ou um acordo sobre projectos pastorais. Se assim fosse, faltaria o Espírito Santo. A pregação, o discernimento, a oração, o discernimento de tudo o que partilhamos são os elementos do Sínodo. E não há caminho sinodal sem discernimento eclesial comunitário. Quando isso faltar, o processo sinodal será como um barco sem velas, movido pelas correntes do mar. E dessa forma não aproveitamos a energia do vento, do Espírito Santo”, disse.
O Cardeal considera que, sem a sabedoria do discernimento, as pessoas ficam à mercê dos tempos. A dimensão contemplativa é igualmente essencial, até porque a sinodalidade “tem que ver com esse olhar contemplativo de ver a realidade com os olhos de Deus”.
“A vossa missão é a de sublinhar essa dimensão contemplativa no ser e agir. Se não colocamos Deus em primeiro lugar, qualquer contribuição neste processo corre o risco de ser simplesmente mundana. O contemplativo é um memorial para a Igreja e para o mundo: memorial do Mistério de comunhão de Deus com os homens. E disto tem necessidade o mundo, mas também a Igreja. Este Mistério requer a prática contínua da oração, tipicamente vossa”, afirmou.
Dizendo que os Contemplativos são um exemplo para a Igreja e para o mundo, D. Mario elogiou a oração, empenho e sacrifício quotidiano de todos os Contemplativos, chamando-os de “coração ardente do Sínodo”.
“A vossa oferta de vida no Mosteiro, como dizia São João Paulo II, não só anuncia Deus, mas também tem uma profunda fecundidade espiritual. Vocês são memorial para a Igreja porque desde sempre puseram no centro a necessidade de escuta. Como diz o Papa Francisco, Igreja Sinodal é a que escuta. Nesse sentido, vocês são um apelo a todos os baptizados para escutarem a palavra de Deus e os outros”, apontou.
Recordando que a escuta sinodal, como diz o Papa Francisco, é recíproca, o Cardeal explicou que há sempre algo a aprender com as outras pessoas, sobretudo se estiverem também à escuta do Espírito Santo, o Espírito da Verdade.
“Temos que escutar para sabermos o que o Espírito Santo comunica à Igreja. Um verdadeiro caminho Sinodal não pode prescindir da oportunidade de converter-nos a partir da escuta da palavra, a partir da escuta do Espírito. O Papa refere muito a palavra «conversão»: conversão pessoal, pastoral, sinodal. Vocês são um exemplo de conversão!”, indicou.
Não devemos ter medo, quem já fez a experiência do Espírito Santo deve estar aberto às surpresas do Espírito. Tudo aquilo a que o Papa nos convida está escrito nos documentos do Vaticano II.
D. Mario espera que o processo sinodal seja um momento de kairós para a Igreja e para os contemplativos e considera que a Comunhão e a Sinodalidade são o primeiro testemunho de Deus na vida da Igreja. A Sinodalidade e a Comunhão serão, aliás, duas faces da mesma moeda.
“Comunidade e sinodalidade são sinal de que vocês são discípulos de Cristo, narradores do Evangelho para o mundo. Arrisco dizer que muitas incompreensões e desentendimentos se dissolveriam se esta dimensão sinodal fosse sempre realizada”, explicou.
O Secretário do Sínodo elogiou ainda o trabalho dos Contemplativos com os pobres, dizendo que estes últimos mais depressa batem à porta de um Mosteiro do que vão ter com um pároco ou bispo, porque sabem que no Mosteiro há sempre quem os escute e lhes dê aquilo de que necessitam.
“Convido-vos a continuar a escutar os pobres e, se não puderem assegurar-lhes o que eles precisam, apresentem os vossos anseios e receios ao Senhor: Ele providenciará”, afirmou, convicto.
Já em tempo de debate e ainda sobre o processo sinodal, um dos participantes perguntou a D. Mario se a Igreja está preparada para mudar.
“Uns estão preparados, outros menos… Não falo tanto de mudar, mas de crescer, de ir mais fundo no conhecimento do Senhor, na escuta da Palavra e na potencialidade da Palavra de Deus para nos mudar. Quem tem medo de mudar, ou de crescer, não conhece a história da Igreja, que é dinâmica, não é estática. Vamos fazendo caminho à luz da Palavra de Deus, à luz do Magistério e da Tradição. E, se dermos passos em conjunto, já serão bons passos. Não devemos ter medo, quem já fez a experiência do Espírito Santo deve estar aberto às surpresas do Espírito. Tudo aquilo a que o Papa nos convida está escrito nos documentos do Vaticano II. O Sínodo convida-nos a revisitar o Concílio Vaticano II! Não podemos esquecer que o objectivo deste caminho sinodal é a missão, a evangelização, facilitar o desejo de Deus de se encontrar com o homem contemporâneo”, concluiu.
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