Arquidiocese de Braga -

3 maio 2022

Chur: contra o Código de Conduta de Prevenção de Abusos

Fotografia Bernard Hallet

DACS com kath.ch

A diocese de Chur apresentou no início de Abril de 2022 um Código de Conduta destinado a combater os abusos na Igreja. Mas, mais de 40 padres, reunidos num “Círculo”, recusam-se a assiná-lo, argumentando que “viola repetidamente a doutrina e a disciplina

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D. Joseph Bonnemain, bispo de Chur, os três vigários gerais e os mais altos representantes das sete corporações eclesiásticas da diocese assinaram a 5 de Abril de 2022 um Código de Conduta sobre a gestão do poder (Verhaltenskodex).

O subtítulo “Prevenção do abuso espiritual e da exploração sexual” descreve o objectivo que a diocese pretende alcançar. O texto pretende orientar o comportamento das pessoas que exercem funções na Igreja ao nível das relações interpessoais. O Código de Conduta pretende ser obrigatório para todos os capelães, colaboradores e funcionários da diocese e das corporações eclesiásticas.

Karin Iten, chefe do sector de prevenção da diocese, defendeu o “Verhaltenskodex”, descrevendo-o como “um instrumento de acção para situações delicadas do quotidiano”. Contém, segundo ela, instruções concretas de acção e constitui “a peça central da gestão de riscos”. O documento estaria alinhado com outros mecanismos implantados em vários lugares da Europa, em círculos não eclesiais.

 

Um “amordaçamento” da doutrina?

O documento, no entanto, levantou oposição entre alguns padres. Num documento de datado de 28 de Abril, o Círculo Sacerdotal (Priesterkreis) de Chur explica claramente por que não quer assinar o Código.

Segundo o Luzerner Zeitung, o “Círculo” é composto por 43 sacerdotes da diocese de Chur. Cerca de 80 outros seriam simpatizantes. Segundo o Anuário Pontifício, há 347 sacerdotes diocesanos na diocese de Chur e 173 religiosos.

O grupo destaca primeiro que a prevenção do abuso é de “grande importância”.

“Consideramos que 95% dos conteúdos temáticos são expressão de bom senso e decência”, lê-se no texto disponível no site “Círculo”. Para os sacerdotes, é necessário fazer tudo o possível “para garantir uma melhor prevenção”.

Os clérigos acreditam, no entanto, que o bispo “nunca deveria ter assinado o documento”. Ao fazer isso, restringiria a proclamação de certas partes da doutrina da fé. Os sacerdotes repreendem D. Bonnemain por “renunciar para si mesmo, bem como para os superiores hierárquicos que estão subordinados a ele e para os sacerdotes, diáconos e colaboradores leigos, que certas partes da doutrina e ordem da Igreja sejam aplicadas no cuidado pastoral”.

O “Priesterkreis” teme que “a Igreja da diocese de Chur se torne um caso especial dentro da Igreja universal, porque seria amordaçada pelo Código no que diz respeito à proclamação da doutrina da fé e da moral”.

 

Foco na homossexualidade

Os que resistem temem que o documento “estabeleça uma dupla moral” ao tolerar a sacerdotes, diáconos e colaboradores leigos uma divisão entre o seu modo de vida pessoal e a sua actividade ministerial, o que não seria válido para outros leigos. A assinatura do Código de Conduta pelo bispo mergulharia assim num conflito de consciência todos os colaboradores “que aderem à irrestrita doutrina e ordem da Igreja”.

O “Círculo Sacerdotal” justifica a sua recusa com exemplos que tocam a moral sexual da Igreja e a concepção católica do casamento. A seguinte frase no código, por exemplo, está a atrair críticas: “Renuncio a avaliações negativas gerais de comportamento supostamente antibíblico com base na orientação sexual”. Para os membros do “Círculo”, quem adere a esta frase não pode mais proclamar o ensinamento da Igreja sobre a homossexualidade, conforme estabelecido no Catecismo. O documento de 1992 afirma que os actos homossexuais são “intrinsecamente desordenados”.

 

Contra a “ordem geral” da Igreja?

Uma passagem referente às entrevistas sobre a vida íntima também desagrada aos críticos: “Nas entrevistas pastorais, não abordo activamente temas relacionados com a sexualidade. De qualquer forma, evito fazer perguntas perturbadoras sobre a vida íntima e estatuto da relação. Isto também se aplica às entrevistas que realizo como superior hierárquico”.

Essa instrução significaria, para os manifestantes, que os padres já não poderiam perguntar aos futuros cônjuges, durante a entrevista matrimonial, se consentem um casamento como comunidade de vida e amor sacramental entre um homem e uma mulher.

A frase do Código de que “me abstenho de qualquer forma de discriminação com base na orientação sexual ou identidade de género” também é problemática para os membros do “Círculo”. Segundo eles, tal afirmação vai contra a “ordem geral” da Igreja. De facto, já não seria possível remover “pessoas que praticam a homossexualidade” do seminário, observam.

 

O “Círculo” quer o seu próprio Código

O Círculo dos Sacerdotes considera que o documento “impõe” o apoio às pessoas que se assumem. Exerceria assim uma “pressão moral” para negar o ensinamento da Igreja. Uma passagem sugere que a recusa em assinar teria “consequências no direito do trabalho”.

Os padres criticam ainda o facto de o bispo não ter submetido o Código aos órgãos consultivos diocesanos, incluindo o Conselho Presbiteral. Pede, portanto, a D. Bonnemain que retire a sua assinatura e assim resolva o “conflito de consciência” dos seus colaboradores. Caso contrário, os clérigos refractários avisam que irão elaborar e assinar o seu próprio Código de Conduta “de acordo com o ensinamento da Igreja”.

Artigo de kath.ch, traduzido e adaptado por Raphaël Zbinden a 1 de Maio de 2022.