Arquidiocese de Braga -
27 maio 2022
Alemanha: abuso sexual dentro de Igrejas também deve ser declarado como acidente de trabalho
DACS com La Croix
Os abusos sexuais sofridos no local de trabalho devem ser tidos como acidentes de trabalho. Isto é o que uma companhia de seguros lembra às Igrejas Católica e Protestante na Alemanha.
No fim de abril, a seguradora de acidentes profissionais VBG, que cobre – entre outras coisas – os funcionários de instituições religiosas em caso de acidente de trabalho, chamou, por correio, as duas Igrejas para lhes denunciar os casos de abuso sexual que os seus trabalhadores teriam sofrido no exercício da sua actividade profissional.
O facto é muito pouco conhecido, mas como qualquer vítima de acidente de trabalho, essas pessoas podem beneficiar de atendimento psicológico e médico “durante o tempo que for necessário”, e receber benefícios financeiros em caso de cessação parcial ou total da actividade profissional. Além dos funcionários, voluntários, como acólitos ou membros de coros religiosos, também têm direito a esse apoio.
“Muito poucos casos” declarados
Embora a primeira série de revelações de abuso sexual dentro da Igreja Católica Alemã date de 2010, a VBG observa que “muito poucos casos” foram declarados até hoje, daí esta carta tornada pública em Abril.
A seguradora explica que tomou conhecimento da fragilidade destes números apenas este ano, depois de a diocese de Munique divulgar um relatório detalhado sobre os abusos sexuais.
“O relatório menciona mil casos, incluindo acólitos e voluntários. No entanto, não recebemos tantas declarações de acidentes de trabalho nesta diocese”, argumenta Pierre Stage.
Em 2018, outro relatório, publicado a pedido da Conferência Episcopal Alemã, relatou 3.677 vítimas no país. De acordo com a VBG, as vítimas são descritas como crianças abusadas nas escolas e, portanto, não estão cobertas por acidentes de trabalho.
Entre os maiores empregadores da Alemanha
A implementação deste seguro de acidentes pode ter grandes consequências para as Igrejas Católica e Protestante que, com mais de um milhão de funcionários só para as organizações Cáritas e Diakonia, estão entre os maiores empregadores da Alemanha. Em particular com a abertura dos seus arquivos aos especialistas da VBG.
“Até ao momento, a Igreja Católica recusou-se a cumprir suas obrigações legais porque se recusou a permitir que actores independentes interferissem nos seus assuntos, entende Hermann Schell, porta-voz da associação de vítimas da diocese de Trier, no Oeste do país. Também a teria forçado a adotar medidas preventivas mais cedo. Isto sem falar nos aspectos financeiros. Quanto mais acidentes de trabalho há, mais as contribuições (impostos) aumentam”.
De acordo com um especialista citado pelo semanário Die Zeit, as duas Igrejas provavelmente verão as suas contribuições aumentarem.
E os serviços actuais?
E os actuais serviços prestados, de forma voluntária, pelas duas Igrejas, como o custo dos cuidados e o pagamento de compensações financeiras? As instituições religiosas poderiam deixar o seguro de acidentes tratar disso?
Segundo Pierre Stage, porta-voz da VBG, esses serviços “não têm nada que ver um com o outro”, mas algumas associações de vítimas estão preocupadas com tal cenário. Em Trier, Hermann Schell não acredita. “Seria um grande golpe para a imagem já muito degradada da Igreja”, disse ele.
A Conferência Episcopal Alemã diz que está em “contacto próximo” com a VBG e recusa-se, de momento, a comentar os detalhes deste complexo processo. É hora da “análise” dos diversos aspectos do assunto e das consequências da carta enviada pela seguradora.
Artigo de Delphine Nerbollier, publicado no La Croix a 27 de Maio de 2022.
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