Arquidiocese de Braga -
21 junho 2022
Conheça a freira francesa que passou as últimas sete décadas como missionária em África
DACS com La Croix International
Membro das Franciscanas Missionárias de Maria, a Ir. Marcelle Magnard irá celebrar o seu 99º aniversário ainda este ano.
Agora no seu 99º ano, passa os seus dias principalmente a rezar e a tricotar.
“Enquanto os meus dedos funcionam, faço cobertores para aqueles que têm frio”, diz, depois da missa.
Todas as manhãs, a Irmã Marcelle agradece a Deus pela vida longa e frutífera que viveu, 76 desses anos na África Ocidental.
“Mais um dia para amar e viver!”, exclama.
A vontade de servir em África
Marcelle Marie-Josèphe Magnard nasceu a 8 de Outubro de 1923, em Roche, Isère. Cresceu nos jardins do Château de Vaugelas, em Dauphiné, depois nos de Champagne-au-Mont-d' Ou, perto de Lyon, onde os seus pais trabalhavam como jardineiros.
“Éramos uma família muito unida e religiosa”, afirma. “Rezávamos juntos todas as noites. Conheci o Senhor através dos meus pais, antes de ir para a catequese”.
A jovem Marcelle ainda era adolescente quando sentiu o chamamento para a vida religiosa.
“Quando eu tinha 17 anos, conheci as Franciscanas Missionárias de Maria (FFM) em Lyon. Vi-as a adorar o Santíssimo Sacramento, foi magnífico! Compreendi que se pode ser um adorador e um missionário”, recorda. “Eu estava entusiasmadíssima!”.
Quando começou o seu noviciado com as FMMs a 15 de Dezembro de 1942, secretamente esperava que a enviassem para servir em África.
“Muitos africanos lutaram na guerra e deram a vida pela França. Vi esses homens presos... Disse a mim mesma que tinha que ir à África falar de Deus e, de certa forma, pagar a nossa dívida”, lembra.
Depois de vestir o hábito, finalmente soube a tarefa que lhe havia sido confiada. Iria para o Burkina Faso, que ainda se chamava Upper Volta na altura.
“Foi um presente do Céu!”, afirma.
A Ir. Marcelle embarcou num navio na cidade portuária francesa de Marselha a 10 de Janeiro de 1946 numa viagem de um mês e meio para Abidjan, na Costa do Marfim. Tinha apenas 22 anos.
“É preciso perceber que naqueles dias os missionários partiam para sempre. Não havia planos de regresso”, diz.
Depois de o seu navio desembarcar na Costa do Marfim, Marcelle fez uma viagem de comboio de três dias e percorreu milhares de carris antes de finalmente chegar a Kampti, uma cidade no sudoeste do Burkina Faso, onde ela e um punhado de irmãs fundaram a segunda comunidade das FMMs.
Deus não pode abandonar o Burkina Faso
“Éramos seis: uma superiora, duas professoras, duas enfermeiras e eu. Formávamos meninas em economia doméstica, preparamos noivos para o casamento e fizemos catequese”, lembra.
“Dei tudo de mim. Esforcei-me para aprender lobiri”, diz, citando uma das línguas locais.
“A vida era muito simples. Eu admirava estas pessoas. Fiz o voto de pobreza, mas eram elas que o viviam diariamente”, lembra com admiração.
Em 1962, a Irmã Marcelle continuou sua missão no Senegal, Togo e outras regiões do Burkina Faso. Depois de um novo noviciado FMM ter sido criado em Ouagadougou em meados dos anos 1980, foi encarregada de formar as noviças das 14 comunidades que fazem parte da província do Burkina Faso, Níger e Togo.
“As irmãs missionárias fizeram muito bem na África, prestaram um grande serviço às populações mais necessitadas”, diz a religiosa idosa.
“Hoje estou muito feliz por ver esta África cristã tão viva e esta fé extremamente forte, como testemunham os milhares de peregrinos em Yagma”, acrescenta, referindo-se à cidade do santuário Mariano que João Paulo II visitou em 1990.
A Irmã Marcelle nunca se arrependeu da sua decisão de ingressar na vida religiosa.
“Para onde quer que eu fosse enviada, eu ia! Na vida, temos que saber deixar ir e não tentar fazer o que Deus não está a pedir para fazermos”, diz ela sabiamente. A Irmã diz que agora está “à espera para ir para a Casa do Pai!”.
Mas Marcelle não está alheia à violência que abala o país, que sofreu um golpe de Estado em Janeiro.
“Se colocarmos em prática o Evangelho, se nos amarmos e vivermos com simplicidade, então o Senhor pode fazer maravilhas. Devemos ter confiança. Deus não pode abandonar o Burkina Faso”, concluiu.
Artigo de Ludivine Laniepce, publicado no La Croix International a 18 de Junho de 2022.
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