Arquidiocese de Braga -
14 setembro 2022
Suicídio assistido: rabino-chefe da França está alarmado com uma “trágica ruptura antropológica”
DACS com La Croix
O rabino-chefe da França, Haïm Korsia, considera que o esforço se deve concentrar no desenvolvimento dos cuidados paliativos.
Em entrevista ao La Croix na quarta-feira, 14 de Setembro, o líder religioso da maior comunidade judaica da Europa disse que se preocupa com uma “ruptura antropológica” se o suicídio assistido fosse legalizado.
“Eu ouço e compreendo o sofrimento das pessoas” diante de “situações inaceitáveis”, “acompanhei-as algumas vezes”, confidencia Haïm Korsia. “Mas essa ruptura, perante o facto de que a única resposta que uma sociedade pode trazer é a morte, é trágica”.
O rabino-chefe da França falou no dia seguinte ao parecer emitido pelo Comité Consultivo Nacional de Ética (CCNE), segundo o qual “existe um caminho para uma aplicação ética da assistência activa ao morrer, sob certas condições estritas”.
“Surpreendido” por esta opinião, Haïm Korsia acredita que “as leis Leonetti (2005, contra a obstinação irracional, nota do editor) e depois Claeys-Leonetti (2016, dando direito à sedação profunda e contínua até à morte, nota do editor) são formidáveis em humanidade e equilíbrio. Não há necessidade de ir mais longe. Ir mais longe seria ir longe demais”.
“Não podemos, de cada vez que há casos insustentáveis, considerar que é a falta de leis que nos coloca nesta situação. De forma alguma: é a falta de aplicação do que decidimos colectivamente”, insiste.
“Um marco terrível”
Com essas duas leis, “já podemos enfrentar todas as situações. Que necessidade temos de ultrapassar este marco (do suicídio assistido), que é um marco aterrador?”, pergunta ainda o líder religioso.
Na sua opinião, o CCNE recomenda “impor os cuidados paliativos entre as prioridades das políticas públicas de saúde”. Um imperativo para Haïm Korsia, que lamenta o atraso e a falta de recursos mobilizados nesta área.
“Ainda há departamentos sem estabelecimentos que possam apoiar pessoas em fim de vida, que se encontram em situações difíceis e graves”, lamenta. “É impensável que o cuidado que lhes pode ser prestado não seja mais valorizado. Eu gostaria de ver o nome mudado, aliás: não são cuidados paliativos, como se não houvesse mais a fazer, são cuidados de apoio, cuidados humanizados”.
Segundo o rabino, “basta visitar a casa Jeanne-Garnier” em Paris, que acolhe os doentes em fase avançada ou terminal da sua doença, oferecendo-lhes um “tempo de apaziguamento”, para perceberem “o que é preciso fazer”. Haïm Korsia quer acreditar “numa sociedade que está lá para dizer: «Há sempre alguém que estará convosco, não para vos matar, mas para garantir que a vossa vida seja sempre respeitável aos vossos olhos»”.
“Esquizofrénico”
“Como é que alguém pode ser esquizofrénico a ponto de lutar tanto contra o suicídio – e nunca podemos fazer o suficiente contra esse flagelo – e ao mesmo tempo organizar a possibilidade de ajudar alguém a cometer suicídio?”, questiona, julgando “perigoso para uma sociedade oferecer apenas isso como esperança”.
Assim que foi conhecido o parecer do CCNE, Emmanuel Macron confirmou, na terça-feira, 13 de Setembro, o lançamento de uma ampla consulta aos cidadãos sobre o fim da vida, com vista a um possível novo “marco jurídico” até ao final de 2023.
Uma convenção de cidadãos, organizada pelo Conselho Económico, Social e Ambiental (CESE), será instituída em Outubro próximo e irá apresentar as suas conclusões em Março de 2023.
“O Presidente da República indicou que abriria um debate. Participarei neste debate e, muito em breve, darei um contributo escrito. E, se necessário, irei a debates por toda a França”, adverte o rabino-chefe.
Artigo de Benoît Fauchet, publicado no La Croix a 14 de Setembro de 2022.
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