Arquidiocese de Braga -
14 setembro 2022
Uma vala comum no Mediterrâneo
DACS com La Stampa
Segundo a agência das Nações Unidas, mais de 1.200 pessoas morreram ou desapareceram na tentativa de chegarem à Europa este ano.
Torna-se realmente difícil para quem, pelo trabalho, acompanha o fenómeno migratório, fazer uma síntese mais suave.
Quanto mais os anos passam, mais nada muda a não ser para pior, empurrando cada vez mais fundo o limite da desumanidade, em relação àqueles que só pedem um porto seguro para se salvarem.
Segundo a agência das Nações Unidas, mais de 1.200 pessoas morreram ou desapareceram na tentativa de chegarem à Europa este ano. Europa. Essa bela palavra para eles, muito provavelmente, significava sobrevivência e um novo começo. Uma pena que tenha sido esvaziada pelo cinismo, pela ganância e pela miopia política de quem agora prefere virar as costas ou terceirizar para qualquer um a gestão de um fenómeno que diz respeito à história da nossa humanidade.
E apesar de todos os indicadores demográficos e económicos mostrarem que o nosso continente está próximo da reforma com uma difícil troca geracional para mantê-lo vivo, insistimos em fechar-nos não apenas aos migrantes económicos, mas também aos mais desesperados, aos que fogem de guerras e misérias.
Silêncio, olhos fechados, porque ao invés de olhar para aquela alma enegrecida como breu é melhor descrever esta tragédia humana como invasão, homens sozinhos com o telemóvel, futuros criminosos, ladrões de pão e trabalho, portadores de decadência e degradação. Ou preto, ou branco. Não há espaço para matizes. Nenhum empenho no envolvimento para gerir o fenómeno na linha da frente sem álibis, mas arregaçando as mangas.
Porque é verdade, a imigração é um recurso ou uma praga, e nós decidimos por preguiça que será uma praga. Mas a imigração, segundo os dados, com campos de refugiados e pobreza absoluta, é mais sofrida pelos países vizinhos do Sul. Em África como no Médio Oriente. É um dado incómodo, são imagens que pouco chegam até nós.
Assim como aquelas do local onde se abriu o novo tráfico. Aquele do Líbano, que rapidamente fizemos questão de esquecer juntamente com aquela nuvem de cinzas do seu porto que explodiu, enterrando definitivamente um dos mais belos países do mundo árabe.
Morrer de sede, fome e queimaduras solares é horrível. Inferno em mar aberto. Foi o que nos deram os corpos que chegaram a Pozzallo. É esta a Europa berço dos direitos? Não, não pode ser enquanto também não olhar para o sul do Mar Mediterrâneo, para encará-lo directamente nos olhos, lá onde estão as suas próprias raízes, que parece ter esquecido.
Artigo de Karima Moual, publicado no La Stampa a 13 de Setembro de 2022.
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