Arquidiocese de Braga -

22 setembro 2022

Catequese deve ser repensada em África, diz teólogo

Fotografia DR

DACS com La Croix International

Entrevista com o padre Eleuthère Ouensavi, professor do Instituto Missionário Católico de Abidjan, na Costa do Marfim.

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“A catequese em África deve ser repensada com ousadia, em diálogo com o mundo e com a reafirmação de objectivos claros”.

Esta é a convicção de Eleuthère Ouensavi, sacerdote da Sociedade das Missões Africanas (SMA) especializado em teologia pastoral e que ensina catequese na Costa do Marfim, no Instituto Missionário Católico de Abidjan (ICMA).

Nesta entrevista com Guy Aimé Eblotié, do La Croix Africa, o padre Ouensavi disse que a catequese precisa de ser adaptada ao contexto específico do continente e das culturas africanas.

 

O que é a catequese e quais são seus objectivos?

Do grego “Katéchumèné” ou “Katéchèo” – que significa “ressoar, ecoar, ensinar, informar e formar, instruir” – a catequese é um acto de ensino pedagógico que ecoa a fé cristã de tal forma que aqueles que a confessam vivem-na. De acordo com a Catechesi Tradendae, documento que reflecte o espírito de aggiornamento catequético exigido pelo Vaticano II, a catequese “tem o duplo objectivo de amadurecer a fé inicial e de educar o verdadeiro discípulo de Cristo através de um conhecimento da pessoa e da mensagem de nosso Senhor Jesus Cristo”. Como pulmão da evangelização, a catequese tem a tarefa específica de ensinar o mistério da fé e de educar para a vida de fé. Tem, portanto, a tarefa de formar os cristãos de forma integral, de iniciar os catecúmenos na vida comunitária e de despertá-los para a vida missionária, segundo o novo Directório Catequético Geral.

 

Alguns clérigos e leigos acreditam que com a catequese se formam baptizados, “não cristãos”. O que acha disto?

Como tudo o resto, a formação catequética tem os seus riscos e, portanto, pode estar sujeita a desvios. Ficaríamos tentados a considerá-la como uma experiência de promoção ou como um caminho de várias etapas para a aquisição de conhecimentos tendo em vista o acesso aos sacramentos. A catequese é um processo educativo de fé que tem um antes, um durante e um depois por causa dos seus objectivos finais: fazer discípulos de Cristo e promover o amadurecimento da fé. A postura do discípulo é sempre a de seguir o caminho (Sequela Christi in statu viatoris). A fé é, antes de tudo, um dom gratuito que não pode ser comprado ou negociado. A catequese em África hoje deve ser repensada com ousadia em diálogo com o mundo e com uma redescoberta ou reafirmação de objectivos claros. Dessa forma, conseguirá formar os fiéis africanos tendo impacto nas suas vidas para que reajam como pessoas novas cuja fé adulta é capaz de testemunhar e sacrificar no seu ambiente.

 

Que tipo de catequese seria adaptada às realidades e ao contexto africano?

Perante a evolução da sociedade e da moral, permanecem muitos desafios, desafios que só a formação poderá enfrentar ensinando a verdade e indicando o caminho certo. A análise da situação africana exige respostas pastorais concretas, um plano de adaptação e inovações corajosas, uma actualização da educação religiosa. É claro que hoje precisamos de uma catequese que se baseie nos paradigmas e na formação para a vida em África. Uma formação inculturada em sintonia com o Evangelho, pronta para acolher e dar espaço àquele Universal que dá sentido à nossa existência, futuro e legitimidade à nossa vocação: Cristo. É, portanto, uma catequese que visa aprofundar a hospitalidade envolvente de Cristo, necessária para a realização da vocação cristã de todos, especialmente do cristão africano: a santidade, o que os Padres conciliares chamam de “a união perfeita com Cristo”. É urgente esta catequese, centrada nos valores evangélicos da corresponsabilidade, da solidariedade, do bem comum, da participação e da protecção das pessoas e da criação.

Entrevista de Guy Aimé Eblotié, publicada no La Croix International a 21 de Setembro de 2022.