Arquidiocese de Braga -

Começaram os primeiros raios de sol e, na casa, já se ouvia algum movimento. A saída estava marcada para as seis horas e era preciso organizar as últimas coisas. Para o fim-de-semana estava agendada a visita a duas das zonais mais longínquas da paróquia: Nampula e Savanuni. As alfaias litúrgicas e tudo o que era necessário para a celebração da Eucaristia, um saco com alguns artigos religiosos para vender, os 32 kits de alimentos que se destinavam a mamãs com bebés recém-nascidos entre outras coisas. Tudo foi carregado na carrinha até que, momentos antes da saída, verificamos que um dos pneus estava vazio! Talvez os mais de 500kg de alimentos que levávamos nos obrigavam a aumentar a pressão dos pneus. Mas não podíamos viajar assim, por isso, a primeira paragem foi na barraca do "mecânico do cruzamento" e depois sim, seguimos por uma estrada de terra batida e imensos buracos (muito estragada devido às chuvas fortes que se fizeram sentir nos últimos meses). A paragem seguinte foi já a cerca de 60km de casa. Na estrada encontramos um camião atolado desde o dia anterior! E a nossa carrinha, solidária, comportou-se da mesma maneira! Agora tínhamos, não uma mas duas viaturas enterradas numa das inúmeras poças lamacentas que se vão formando ao longo da estrada!

Há dias em que precisamos de muiiitaaa ajuda humana (sem esquecer a divina) para abrir caminho! E lá foram aparecendo os “engenheiros” com as suas enxadas (e muita força de braços) para nos ajudar. Os restantes 10km do caminho tiveram que ser feitos de moto... e um pequeno percurso a pé! Porque o importante é chegar.

Indiscritível a alegria com que as comunidades nos receberam quando lá chegamos cinco horas depois do que era previsto! Mas eles sabem o previsível é uma palavra em desuso nestas terras! Se, em Portugal, quem fracassa na programação, programa o fracasso, aqui, fracassa o programa quem programa!

Bem, mas já que conseguimos chegar (o que nem sempre acontece), que comece o encontro com os cristãos da comunidade e os seus responsáveis, a celebração da Eucaristia, o encontro com as mamãs, a catequese com crianças... e o tempo de escutar as preocupações deste povo!

O relógio (ou o sol) não pára e, perto da casa que nos acolheu para almoçar, já se encontram mais duas motas: é hora de seguirmos, eu, o pároco e o paroquial, para Savanuni! Ainda não víamos os jovens, mas já os ouvíamos a cantar: "Recebemos as visitas, em nome do Senhor!”. Após aquele fervoroso acolhimento, da catequese sobre as aparições de Fátima (a comunidade que nos acolheu tem, como patrona, Nossa Senhora de Fátima) das primeiras saudações e da apresentação dos responsáveis pelos diferentes ministérios, fomos brindados com um delicioso jantar à luz do luar! Seguiu-se a festa com os jovens, que chegaram com os batuques, e as danças prolongaram-se pela noite dentro... ou até o corpo já não aguentar e pedir repouso na esteira! Acordamos cedo... talvez porque os galos que partilham connosco a casa não têm relógio! Por isso, toca a levantar porque já cheira a um belo esparguete para “mata-bichar” e siga o programa... porque a comunidade é outra e, no final do dia queríamos regressar à casa da missão! Restava-nos saber ainda como, e se, iriamos chegar... como, inicialmente, estava programado!

Artigo publicado no Jornal O Conquistador de 19 de maio de 2023.