Arquidiocese de Braga -

28 julho 2025

«Todos os gestos do bispo têm de ser gestos de bênção e de unção espiritual»

Fotografia Avelino Lima

 DM - Jorge Oliveira

A Arquidiocese de Braga acolheu ontem de braços abertos e com grande alegria, expressos em aplausos, o novo Bispo auxiliar, D. Nélio Pereira Pita, que foi ordenado na Sé Primaz, numa celebração solene presidida pelo Arcebispo Metropolita de Braga, D. José Cordeiro.

Marcaram presença numerosos bispos, sacerdotes, diáconos, seminaristas, autoridades civis e militares, além de centenas de fiéis.

A cerimónia teve inicio na igreja de S. Paulo, com uma procissão litúrgica até à catedral, onde o bispo madeirense foi ordenado.

D. Nélio Pita, que celebra este ano o seu jubileu sacerdotal, foi nomeado pelo Papa Leão XIV no dia 6 de junho de 2025, Bispo titular de Garba e Bispo auxiliar de Braga, tendo escolhido como lema episcopal a frase bíblica “Para que tenham Vida”, do Evangelho segundo São João.

Exemplo de S. Bartolomeu dos Mártires

Na homilia, com o título “Ardente missão”, D. José Cordeiro destacou a centralidade da oração na vida da Igreja, referindo que «é necessário voltar sempre de novo à rate de rezar», e exortou o novo bispo a viver o seu serviço com humildade, escuta e proximidade ao povo de Deus.

«Todos os gestos do bispo têm de ser gestos de bênção e de unção espiritual. Transforma o teu olhar, como gostava de dizer o Papa São João XXIII: «O Bispo vê tudo, deixa passar quase tudo e corrige um pouco», afirmou.

O Arcebispo lembrou ainda as exigências e responsabilidades do ministério episcopal, citando Santo Agostinho: «não há nada tão difícil, nem tão penoso, nem tão perigoso como o múnus episcopal».

Partindo da frase de D. Frei Bartolomeu dos Mátires, “Arder para iluminar”, D. José Cordeiro sublinhou que «quem não arde não incendeia. Quem não arde não ilumina».

«É necessário sair fora da lógica do poder deste mundo. Nunca transformar a autoridade em poder ou autorreferencialidade. A verdadeira autoridade na Igreja é amar, escutar, servir e acolher a todos», acrescentou.

Segundo D. José Cordeiro, a Igreja «tem de exercitar ainda mais a sua função de mãe amável e atenta a no acompanhamento de todas as pessoas, para que seja capaz de oferecer motivos de esperança».

Na sua reflexão, o prelado sugeriu ainda um caminho espiritual para o novo bispo, assente em três pilares fundamentais: a pregação, o exemplo e a oração.

«Embora a pregação e as obras sejam virtudes necessárias, só a oração consegue graça e eficácia», afirmou, citando o pensamento de São Bartolomeu dos Mártires.

D. José concluiu a homilia dirigindo palavras de encorajamento ao novo bispo auxiliar: «Caríssimo D. Nélio, na proximidade paterna, fraterna, pastoral, espiritual e amiga, doa-te a todos quantos Deus confia ao teu cuidado: os Presbíteros, os Diáconos, as Pessoas consagradas, os seminaristas, os ministérios laicais, as famílias, os jovens e os mais velhos, os doentes, os migrantes, os reclusos, os refugiados e quem mais precisa da compaixão, ternura e misericórdia».

«Assinaladamente “o serviço dos pobres deve ser preferido acima de tudo” como testemunhou S. Vicente de Paulo», acrescentou.

A ordenação foi marcada por vários momentos simbólicos, entre os quais a imposição das mãos, a unção e a entrega do livro dos Evangelhos, que expressa o compromisso do bispo em proclamar a Palavra.

D. Nélio Pita compromete-se a dedicar particular atenção aos marginalizados

D. Nélio Pita destacou o compromisso com os mais pobres, a unidade da Igreja e a promoção da vida como pilares do seu ministério episcopal, iniciado ontem na Arquidiocese de Braga.

Em declarações aos jornalistas momentos antes da sua ordenação, o novo bispo auxiliar de Braga comprometeu-se a dedicar particular atenção aos que vivem nas periferias sociais, afirmando que o seu ministério será marcado por uma forte sensibilidade missionária e pela defesa da vida em todas as suas dimensões.

«Eu sou Vicentino, nasci para a vida religiosa como padre da missão, e vou tentar ser fiel a esse carisma, que tem uma dimensão missionária muito forte, e uma atenção às periferias, àqueles que são os marginalizados da sociedade», afirmou.

Natural da Madeira e antigo pároco da comunidade de São Tomás de Aquino, em Lisboa, onde serviu durante 12 anos, D. Nélio Pita inicia agora uma nova etapa na Arquidiocese de Braga. Apesar da responsabilidade, garante que o caminho será feito em escuta e proximidade com as comunidades paroquiais.

«Não trago um programa pronto. Primeiro vou estudar a realidade, aprender com quem já conhece, nomeadamente com o Arcebispo D. José Cordeiro e com D. Delfim Gomes, bispo auxiliar. Vou aprender com o clero e com o povo de Deus. Depois, darei o meu contributo, especialmente onde me sinto mais chamado: junto dos que vivem à margem», frisou.

Acolhimento de migrantes

Com experiência missionária ao serviço dos Vicentinos, D. Nélio sublinhou que a Igreja deve ter uma visão ampla e sem fronteiras, especialmente no acolhimento dos migrantes.

«O outro não é uma ameaça. É uma riqueza. O outro sou eu. O outro é Cristo. E muitas comunidades, que por vezes estão moribundas, são revitalizadas precisamente por essa diversidade», defendeu.

O bispo notou, contudo, que existe ainda resistência a esta abertura.

«Mesmo que haja apenas 1% de vozes dentro da Igreja que olham com desconfiança para os migrantes, devemos questionar-nos. O Papa Francisco foi muito claro em Lisboa: temos de estar todos alinhados como Corpo de Cristo. Isso implica unidade na diversidade», disse.

Inspirado no seu lema episcopal — “Para que tenham vida” — D. Nélio Pita assumiu, no final da sua ordenação, três compromissos para o seu episcopado: unidade, sinodalidade e promoção da vida.

Sobre a unidade, recordou as palavras do Papa Leão XIII, apelando a uma Igreja «sinal de comunhão e fermento para um mundo reconciliado».

Quanto à sinodalidade, sublinhou a importância de «caminhar juntos», ouvindo mesmo os que pensam de forma diferente, pois «a sinodalidade faz parte da nossa identidade». Na defesa da vida, alertou para os perigos do mundo atual. 

«A guerra é uma ferida no coração de Deus. A banalização do mal, como vemos na Ucrânia e em Gaza, mostra o que acontece quando o Homem exclui Deus. Onde está a vida sem Deus?», questionou.

Caminhar com o povo 

Dirigindo-se à Arquidiocese de Braga, D. Nélio deixou uma mensagem de esperança e colaboração: «Estou ao vosso dispor. Quero aprender convosco, caminhar convosco, ajudar e também ser ajudado. Quando estamos centrados em Cristo, tudo podemos superar. Quando nos centramos em ideologias, a divisão instala-se».

No seu discurso, D. Nélio dirigiu ainda vários agradecimentos, desde  D. José Cordeiro ao Superior Geral da Congregação da Missão, o padre Tomaž Mavrič, que esteve na cerimónia, sem esquecer duas comunidades que estiveram representadas: uma da Madeira, sua terra natal, composta também por familiares de 

D. Nélio, e outra de Lisboa, a comunidade de S. Tomás de Aquino – Laranjeiras. «Ele foi um grande pároco, mereceu este reconhecimento da Igreja. É um bom conselheiro e muito amigos dos pobres», disse ao Diário do Minho Rosa Luís, paroquiana da comunidade de S. Tomás de Aquino.

No final, o novo Bispo auxiliar de Braga pediu que rezem por ele para que tenha as qualidades de um «bom discípulo».