Arquidiocese de Braga -
23 abril 2025
Opinião
“A verdade vos libertará”

Lara Saavedra
A palavra liberdade está bastante em voga no século XXI, parece que todos têm algo a dizer sobre a liberdade. Ser livre é o meio e a meta de vida. Ainda assim, podemos perguntar-nos: somos verdadeiramente livres? Em que consiste a tal da liberdade?
Sem a pretensão de trazer postulados filosóficos sobre o tema, senão traçar algumas linhas de reflexão desde a experiência humana da liberdade na nossa sociedade. Chama-me a atenção como, paradoxalmente, apesar de tanto se falar liberdade, vemos as pessoas cada vez mais inadvertidamente sujeitas a diversas espécies de aprisionamento… A cultura do consumismo, da estética, do poder, do êxito, das ideologias totalitárias, das redes sociais, dos vícios, do prazer… Há quem não esteja minimamente condicionado a, pelo menos, algum destes aspetos que já são a norma do quotidiano pós-moderno?
Tudo isto, me leva a questionar… O que andamos a buscar? Ou do que estamos a fugir?
Porque parece ser que todas estas coisas, algumas até boas em si mesmas, infelizmente muitas vezes servem para nos desconectar de uma realidade que não gostamos e para projetar como que gostaríamos de ser e estar.
Podemos pensar, então, que existe uma íntima conexão entre liberdade e verdade, “a verdade vos libertará” é uma máxima que resiste ao exame da própria experiência de vida. Sentimo-nos mais livres com quem e quando somos mais verdadeiros e quanto mais verdadeiros somos – connosco mesmos em primeiro lugar – mais livres somos.
Desde esta perspetiva, o caminho para a liberdade é um caminho interior, que cabe a cada humano atravessar (não sozinho) por meio do conhecimento e da aceitação do seu próprio ser e, sobretudo, das suas fragilidades. Porque em cada momento e em cada circunstância, podemos ter duas atitudes vitais: lançar-nos para a verdade ou esconder-nos dela.
Quando temos assumido interiormente aquilo que é nosso, por mais incomodo, frágil, doloroso ou difícil que seja, pouco nos pode afetar o que venha de fora ou como somos percebidos e valorizados. “O que os outros pensam de nós teria pouca importância se não influenciasse tão profundamente o que pensamos de nós mesmos” afirmou o filósofo George Santayana. Não há necessidade de projetar uma imagem maquilhada de si mesmo, também não faz falta usar máscaras, pois abraçar a própria verdade traz consigo essa profunda transformação que resulta não numa autossuficiência egoísta, mas numa livre autonomia.
Por sua vez, o resultado é que crescer em liberdade também é crescer na capacidade de deixar que o outro seja livre e, assim, a relações tornam-se não livres de conflitos nem menos desafiadoras, mas mais autênticas, respeitosas, igualitárias.
Somente desde a verdade podemos ultrapassar a fumaça das ilusões e prescindir da areia da dispersão, para construir sobre a rocha – dura, mas firme – da realidade, para nós e para os demais, uma liberdade que seja genuína e duradoura.
Ir. Lara Saavedra, Religiosas de Maria Inmaculada
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