Arquidiocese de Braga -
10 maio 2025
Imaginar o desconhecido

Homilia do Arcebispo, D. José Cordeiro, na Bênção dos finalistas, 10 de maio de 2025
1. Jesus, o Bom Pastor: uma bússola para a vida
Em todos os três ciclos do Lecionário lê-se no IV Domingo da Páscoa um texto de João sobre o Bom Pastor. Hoje, o breve texto bíblico-litúrgico mostra dois grupos opostos, os Judeus, que não acreditam em Jesus e os chamados as suas ovelhas, que escutam a sua voz e o seguem. Jesus conhece pelo nome os seus discípulos, isto é, na sua mais íntima essência. No seguimento sintetiza-se todo o percurso cristão. Por causa desta seriedade no seguimento, Jesus promete muito «Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão-deperecer e ninguém as arrebatará da minha mão». Esta solene declaração do verdadeiro pastor apoia-se na sua proteção absoluta, porque participa sem limites do poder do Pai «Eu e o Pai somos um só».
Num tempo de decisões e incertezas, Cristo apresenta-Se como o Pastor que conhece cada um pelo nome e caminha à frente. Escutar a voz do Pastor no meio de tantas vozes. Discernirvocações, caminhos profissionais e projetos de vida exige silêncio interior e escuta profunda.
Jesus é o bom Pastor, ou melhor o único Pastor. Neste Domingo da Páscoa, por proposta do Papa São Paulo VI, celebra-se o Dia Mundial de Oração pelas vocações, acompanhando na oração aqueles que Deus já chamou e que «seguem o Cordeiro, onde quer que ele vá» (Ap 14,4).
2. O dom da vida plena (Jo 10,10)
Cristo não promete facilidades, mas plenitude. A vida em abundância não se mede em sucesso, mas em sentido. Os anos de estudo são uma preparação não apenas para um emprego, mas para uma missão no mundo.
Ser pastor da própria vida e da vida dos outros. A universidade forma competências, mas Cristo forma corações disponíveis para o serviço.
Como é que cada um pode ser “bom pastor” nos ambientes onde vai viver e trabalhar? Cuidando, promovendo, escutando.
Portugal «atravessa significativas complexidades sociais como a persistência da pobreza, as dificuldades no acesso à habitação e as desigualdades sociais, com o impacto que tudo isto tem na vida das famílias. Também o acolhimento aos migrantes, com os desafios daí decorrentes, marcam o dia-a-dia [...]. Diante deste quadro, e na proximidade de novas eleições legislativas antecipadas, É urgente um diálogo entre as principais forças políticas para que destas eleições nasça uma estabilidade governativa capaz de restabelecer a esperança dos cidadãos e atender à primazia do bem comum, à justiça social e ao cuidado para com os mais vulneráveis. Apelamos também aos cidadãos para que, no próximo dia 18 de maio, exerçam o seu direito de voto refletido e informado. Votar é um direito e um ato de participação ativa na construção da sociedade que ninguém deve negligenciar» (CEP, comunicado final, 1 maio 2025). Com serenidade, verdade, liberdade e paz, procuremos ser construtores de pontes e não de muros. Sejamos artesãos de esperança.
3. O Jubileu: um tempo de passagem e de graça
O Jubileu é tempo propício para “abrir as portas do coração” e deixar-se encontrar por Deus. Assim como o jubileu bíblico era tempo de recomeço, também este ano pode ser um novo início. Atravessar esta “porta santa” do fim do curso com um coração aberto à novidade de Deus.
A fonte da alegria de todos os eleitos é o Cordeiro-Pastor «O Cordeiro será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água viva». O Salmo 99 é um autêntico hino à alegria. A alegria cristã é a força da fé para o nosso confiante peregrinar. Mas, como adverte Sto. Agostinho «Entendamos esta alegria, não a expressemos sem a entender. Não cantemos só com a voz, mas com o coração. A voz do coração é o entendimento».
É muito expressivo um desejo do Papa Francisco: «Talvez a missão da universidade consista em formar poetas sociais, homens e mulheres que, aprendendo a gramática e o vocabulário da humanidade, tenham o ímpeto, o brilho que lhes permita imaginar o desconhecido».
E o novo Papa, Leão XIV, afirma: «há um mundo que considera Jesus uma pessoa totalmente desprovida de importância, quando muito uma personagem curiosa, capaz de suscitar admiração com a sua maneira invulgar de falar e agir. Por isso, quando a sua presença se tornará incómoda, devido aos pedidos de honestidade e às exigências morais que invoca, este “mundo” não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo. [...] Ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer».
Imaginar o desconhecido é peculiar ao peregrino. A metáfora do caminho evidencia que uma viagem não é só um movimento físico, mas sobretudo um processo de descoberta e de autoconhecimento, onde cada pessoa é chamada a confrontar-se com a suas esperanças, alegrias, medos e angústias.
Sim, hoje, ser peregrino de esperança é um ato de coragem e de confiança. Cada etapa do caminhorepresenta uma fonte de crescimento e de transformação integral e integrada, no dinamismo da peregrinação: partir, caminhar e voltar ao essencial da vida.
+ José Manuel Cordeiro
Arcebispo Metropolita de Braga
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