Arquidiocese de Braga -

5 julho 2025

Arrisco esperançar

Fotografia DR

Homilia de D. José Cordeiro no Dia Arquidiocesano dos Jovens e 5º Encontro Arquidiocesano de Acólitos - Igreja de São Francisco, Guimarães

1. Todos peregrinos de esperança

Lembram-se do que o Papa Francisco nos disse na JMJ de Lisboa em 2023? «Levantem-se! Não tenham medo! Levantem-se depressa!» Essa foi a grande convocatória para arriscar como peregrinos de esperança. Não para ficarmos presos à memória de uma experiência intensa, mas para fazermos dela o motor de uma vida inteira com Deus. Hoje, com as leituras que escutámos, essa mesma voz volta a chamar por nós. E não chama para ficarmos de braços cruzados.

O Evangelho de São Lucas mostra-nos Jesus a enviar 72 discípulos, dois a dois, à sua frente. Ele não lhes promete segurança nem fama. Pelo contrário: manda-os sem bolsa, sem sandálias, como cordeiros no meio de lobos. O que lhes dá é uma missão. E é isso que Ele faz connosco hoje. Dá-nos uma missão: sermos jovens com coragem, que não ficam à espera de sinais espetaculares para começar, mas que arregaçam as mangas e partem com o que têm. É o que São Paulo diz na Carta aos Gálatas: que a única glória é a cruz de Cristo. Não a glória do conforto, mas a glória do amor que se dá. Não esqueçamos que o elemento essencial da missão é a oração, porque a missão, ante de tudo, é um ato de fé.

E por isso, arregacem as mangas! O mundo precisa de jovens que não tenham medo de sujar as mãos por um bem maior, por uma fé verdadeira, por um amor que não é só palavra, mas vida concreta. Como disse recentemente o Papa Leão XIV: «Arregacem as mangas. O Senhor não desilude. Quem trabalha na sua vinha encontra o sentido da vida».

Se estás à espera de te sentir “mais preparado” para começar a missão… esquece! Jesus não enviou discípulos prontos — enviou discípulos missionários disponíveis. Deste mandato de Jesus, intuímos, então, que “todos, todos, todos” somos peregrinos de esperança, porque ser peregrino faz parte do nosso ser enquanto pessoas e enquanto cristãos. Faz parte do nosso ADN ser peregrinos, sempre em caminho.
 

2. Jovens e acólitos arriscam o sonho de Deus

Mas que missão é essa? É ser portador de paz. Num mundo cheio de ruído — redes sociais, comparações, ansiedade, correria, guerras — a nossa presença pode ser de paz. Este é o sonho de Deus. No profeta Isaías, ouvimos uma imagem belíssima: Deus como mãe que consola o filho ao colo. Esta é a paz que somos chamados a levar: não a ausência de conflito, mas a presença do consolo. Uma palavra certa. Uma escuta verdadeira. Um abraço que não julga. Não é preciso gritar para evangelizar. Às vezes, basta estar. Basta escutar. Basta amar.

O Papa Leão XIV disse algo que me tocou muito: «O mundo não precisa de jovens que falem alto. Precisa de jovens que tragam paz». É isso que Jesus nos pede no Evangelho, com palavras diretas: «Quando entrares numa casa, diz: ‘Paz a esta casa’». E se não for recebida? A paz continua connosco. A paz que vem de Cristo nunca se perde — multiplica-se. Paz partilhada, paz multiplicada.

Vós, queridos jovens e acólitos, como cristãos, sois também chamados a ser estes peregrinos em todos os contextos da vossa vida, nunca sozinhos, mas sempre dois a dois ou mais e, por isso, sempre acompanhados por modelos de peregrinos missionários de Jesus, sobretudo dos santos, para não ficarem acomodados, mas ousarem arriscar sempre mais por Jesus e com Jesus. Quem é o teu companheiro desta peregrinação? Com quem te sentes enviado a peregrinar para anunciar Jesus?

Deste modo, não somos apenas jovens e acólitos, nem apenas peregrinos, mas seremos verdadeiramente cristãos que arriscam a vida para serem peregrinos da Esperança que é Jesus! E somo-lo de facto. Saímos de nossas casas, das nossas comunidades de fé, de cada um dos nossos treze Arciprestados, para rumarmos à cidade de Guimarães, como peregrinos, deste Dia Arquidiocesano dos Jovens e Encontro Arquidiocesano dos Acólitos, porque caminhamos todos juntos. E muitos de nós ainda prosseguiremos este caminho até Roma, celebrando o Jubileu dos Jovens.

 

3. Os jovens e os acólitos são sinais de esperança

Finalmente, Jesus diz algo incrível: «Curai os doentes e dizei: o Reino de Deus está perto». Ou seja: o Reino não é uma ideia distante. Está perto. E começa em ti. Não com milagres de filme, mas com gestos simples, cada vez que amas sem medida, perdoas sem interesse, acolhes sem exigir. É isso que o Salmo 65 canta: «Vou contar-vos o que Deus fez por mim». Pois é isso que tens de fazer. Dar testemunho. Falar com a tua vida. Sem medo de seres imperfeito — com coragem de seres verdadeiro. Tu és uma missão!

Um jovem beneditino escreveu: «às vezes pergunto (é natural): o que será de mim? Que quererá o Senhor deste pobre monge? Há dias que são... noites... tempestades..., mas há sempre um clarão de esperança, um fiozinho, uma réstia de luz. O Senhor prova-me muito, pisa-me todo... e é assim que mais me prende. Pois a quem irei, se só Ele tem palavras de vida eterna?», como escreveu o venerável Bernardo de Vasconcelos (± 4.7.1932), o patrono dos jovens na nossa Arquidiocese. Ontem comemoramos 93 anos da sua Páscoa eterna.

Lembramos também como São Francisco Marto, o patrono dos acólitos em Portugal, peregrinava tantas vezes à Igreja Paroquial de Fátima, para se esconder atrás da fonte batismal e se encontrar com “Jesus escondido” no sacrário.

A exemplo destes dois santos jovens, somos impelidos a peregrinar sempre até Jesus, nunca pondo nada à frente do encontro com Jesus. Aliás, todos os riscos que corremos na vida devem ser para Jesus. Por isso, a primeira peregrinação dos jovens e acólitos é até à Igreja para encontrar Jesus. E este encontro com Jesus deve ser a nossa grande alegria da vida, tal como profetizava Isaías: «quando o virdes, alegrar-se-á o vosso coração» (Is 66, 14b).

O Papa Leão XIV disse recentemente aos jovens: «A juventude é terra fértil. Se plantarem esperança, vão colher alegria». Então planta. Hoje. Aqui. Onde estás. Porque o Reino começa em ti. E não há idade certa, nem momento ideal. Há apenas este: o agora de Deus.

Queridos jovens de Braga, depois de Lisboa, e depois destes encontros jubilares, está cada vez mais perto a nossa ida a Roma. Mas o mais importante é perceber que não vamos como turistas da fé. Vamos como enviados. Como discípulos missionários. Como trabalhadores da seara. Ides passar por muitas terras, pernoitar em espaços que são vossos de coração, com os desafios naturais de uma jornada desta natureza. Contamos com o vosso entusiasmo para uma pastoral juvenil que seja de sementeira de futuro na nossa Arquidiocese. O Jubileu não é um objetivo a cumprir, muito menos um evento para o teu “curriculum espiritual”, é uma experiência de envio, com um único propósito: Ser mais de Deus.

Caríssimos jovens e acólitos da nossa querida Arquidiocese, com a intercessão da Virgem Santa Maria de Braga, bem como dos jovens Bernardo Vasconcelos e Francisco Marto, sintamo-nos impelidos a partir deste encontro de jovens e de acólitos de coração renovado, com espírito de peregrinos de esperança, para transfigurarmos o mundo, como servidores do Servidor que é Jesus, a nossa Esperança.

Por isso, levantem-se. Arregacem as mangas. Levem paz. Façam nascer o Reino.

E com alegria no coração e os pés prontos para caminhar…
Vemo-nos em Roma no Jubileu dos Jovens!

 

​​​​​​+ José Manuel Cordeiro