Arquidiocese de Braga -
14 agosto 2025
Romaria de S. Bento apela à humanização do mundo do trabalho

DM - Jorge Oliveira
O Bispo auxiliar de Braga D. Delfim Gomes defendeu ontem, no santuário de S. Bento da Porta Aberta, em Terras de Bouro, a necessidade de uma maior humanização do mundo do trabalho, sublinhando a importância de garantir condições de trabalho juntas e estáveis como forma de proteger a dignidade da pessoa humana e apoiar a família.
O prelado expressou esta ideia na homilia da missa principal da grande romaria a S. Bento, numa altura em que se discute em Portugal alterações à legislação laboral propostas pelo Governo.
«Humanizar o mundo do trabalho em tudo o que isso comporta, desde logo apoiar a pessoa humana e dar-lhe condições de trabalho justas e estáveis, de modo a que se possa apoiar a família», afirmou D. Delfim Gomes, quando se referia à regra de S. Bento, “Ora, Trabalha e Estuda”, que apontou como um caminho para os cristãos atingirem a santidade.
Diante da numerosa assembleia de fiéis reunida na cripta, o prelado disse que a oração é a «herança mais bela deixada por São Bento aos monges e por eles a toda a humanidade», através da qual somos conduzidos «diretamente ao coração de Deus».
O Bispo auxiliar da Arquidiocese de Braga destacou também a relevância da ação beneditina na preservação da cultura e da educação europeias, sublinhando que a herança espiritual de S. Bento deixou uma marca profunda na história do continente.
«A atenção ao mundo da cultura e da educação deve-se a São Bento, que marcou toda a nossa Europa. Toda a Europa foi marcada por esta espiritualidade, o querer a Deus, ou seja, buscar a Deus e ter a disponibilidade para a escuta», referiu.
D. Delfim Gomes incentivou os fiéis a assumirem a missão de construir, em nome de Cristo, uma «nova humanidade, caracterizada pela hospitalidade e pela assistência aos mais frágeis», referindo que este caminho, defendido, proposto e vivido por
S. Bento «leva-nos à vivência autêntica e fiel da nossa fé», porque «é caminho da santidade».
Recordando o exemplo de S. Bento, que abandonou os estudos em Roma para se entregar à oração e ao silêncio, refugiando-se numa gruta em Subiaco (Itália), onde viveu como um eremita, D. Delfim destacou que a santidade é um chamamento universal, acessível a todos – mesmo àqueles que vivem no quotidiano agitado da sociedade contemporânea.
«A santidade, caros irmãos, não é um ideal distante, reservado aos monges ou aos santos canonizados. A santificação é uma exigência para todos, inclusive para quem vive no meio da agitação diária, das redes sociais, das contas por pagar, das dificuldades do quotidiano. A santidade é um dom de Deus, que recebemos no batismo. E se o deixarmos crescer, pode fazer a diferença na nossa vida», sustentou.
D. Delfim Gomes terminou a homilia com palavras incentivadoras, apelando à vivência da missão cristã com fidelidade e entrega: «Que São Bento interceda por nós, que Deus renove o nosso coração, o ardor da missão, e que todos sejamos chamados a viver com mais fidelidade a nossa vocação».
Milhares de peregrinos testemunham afeto e devoção a São Bentinho
O santuário de S. Bento da Porta Aberta recebeu milhares de peregrinos naquele que foi o principal dia da grande romaria de agosto, tradicionalmente associada aos emigrantes que por esta altura regressam a Portugal para “matar saudades”.
O acolhimento decorreu com o apoio de várias entidades, entre as quais a delegação da Cruz Vermelha de Rio Caldo que esteve presente com equipas de 10 a 15 socorristas por turno, auxiliados por duas viaturas de emergência e apoio diferenciado de uma carrinha de coordenação conduzida por um médico.
Durante a manhã, os socorristas não tiveram grande trabalho. «Até agora tem sido uma romaria calma, temos estado muito tranquilos», disse ao Diário do Minho Rui Ferreira, socorrista voluntário, à porta do posto de primeiros socorros, instalado ao lado da Basílica.
Bolhas nos pés, desidratação (por insuficiência de ingestão de água durante os percursos) e quedas de tensão arterial foram os principais sinais detetados junto de peregrinos que chegaram a pé ao santuário.
No recinto esteve também a GNR a orientar o trânsito numa romaria que conta ainda com a colaboração dos Bombeiros Voluntários de Terras de Bouro.
O presidente da Irmandade de São Bento da Porta Aberta destacou a presença de milhares de peregrinos desde que começou a romaria, no dia 10, muitos deles emigrantes, referindo que São Bento continua a atrair, a dinamizar e a sensibilizar pelo que foi a sua vida.
«São milhares e milhares de pessoas que por aqui passam pela imagem de S. Bento e pelo papel que nós temos aqui no santuário, não só de acolher, mas também de deixar uma imagem de renovação da vida das pessoas», disse o padre Miguel Paulo Simões.
António Ferreira, emigrante na Suíça, foi um dos muitos peregrinos que subiu até junto do trono de S. Bento, após largos minutos de espera na fila.
«Vim oferecer uma perna de cera pela minha sogra que está ali em cadeirinha de rodas», disse ao Diário do Minho.
Devoto de S. Bento, todos os anos vai com a família ao santuário terrabourense, às portas do Gerês, para pedir e/ou agradecer graças concedidas.
«Não vimos sempre no dia 13 de agosto, como aconteceu hoje [ontem], mas procuramos visitar sempre o São Bentinho durante a terceira romaria», disse.
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