Arquidiocese de Braga -

14 setembro 2025

S. Lázaro recordou o Senhor Arcipreste

Fotografia DR

DM

Sessão evocou cónego João Manuel de Barros

O cónego João Manuel de Barros, mais conhecido como o “Senhor Arcipreste”, que foi pároco de São José de São Lázaro entre 1943 e 1980, foi evocado na passada sexta-feira, numa sessão pública muito participada, que teve lugar na igreja de São Lázaro. 

Numa iniciativa conjunta da Paróquia de São Lázaro e da associação Braga Mais, em parceria com a União das Freguesias de São Lázaro e São João do Souto, foi recordado o pároco mais marcante da história desta paróquia bracarense, ainda hoje despertando muitas memórias e saudades daqueles que com ele conviveram. 

Na intervenção inicial, o atual pároco de São Lázaro, Rúben da Cruz, referiu-se ao Cónego João Manuel de Barros como alguém que “não procurou destaque”, mas, sim, “ser fiel”, destacando-se pelo “seu coração bondoso, generoso e profundamente dado”. Relevando-o como o exemplo do “bom pastor”, acrescentaria que o seu testemunho não se limitava “apenas ao altar”, mas estava presente “nas casas, nos hospitais, nas ruas da paróquia”, sempre junto “dos pobres, das viúvas, dos jovens e dos doentes”.

Também presente nesta homenagem, o padre Tobias da Silva, pároco de Pedralva e o mais velho sacerdote da Arquidiocese de Braga, recordou a sua tomada de posse como pároco, ocorrida há 74 anos, que seria presidida pelo Cónego João Manuel de Barros. O sacerdote confessaria também a sua “surpresa” por uma homenagem tão tardia a um sacerdote “tão marcante para a paróquia de São Lázaro”.

Um dos convidados foi António Pires, filho de Marcelino de Sá Pires, o benemérito que ofereceu o terreno onde seria edificada a atual igreja de São Lázaro, que se referiu ao cónego João Manuel de Barros como um “homem de Deus”, sugerindo a abertura de um “processo de beatificação”. Recordando três décadas de convivência como paroquiano, seminarista e sacerdote, o convidado sublinhou a “atenção aos mais pobres e frágeis” como a grande qualidade do Senhor Arcipreste, acrescentando que foi um homem de “bolsos vazios”, porque “tudo o que tinha oferecia a quem precisava”.

A sessão contou igualmente com muitos testemunhos das pessoas presentes, todas evocando a proximidade e simplicidade do Senhor Arcipreste, focando particularmente a sua presença junto dos moradores do antigo bairro Araújo Carandá, que seria demolido em 1978, sendo os seus moradores transferidos para as Enguardas.

Referindo-se unanimemente à necessidade de reforçar a evocação do Cónego João Manuel de Barros na paróquia de São Lázaro, entre as sugestões emanadas pelos presentes está a ereção de uma estátua ou monumento evocativo e a publicação de um livro com testemunhos.  

Complementando esta sessão, que foi animada pelo Grupo Coral Alegre Mensagem, encontra-se disponível uma pequena mostra de documentos e fotografias sobre o Cónego João Manuel de Barros. Esta exposição está patente no átrio principal da Igreja de São Lázaro até 30 de setembro. 

O mais longevo pároco de São Lázaro

Natural de Barreiros, em Amares, onde nasceu e foi baptizado a 2 de setembro de 1902, era filho de Elias José de Barros e de Olívia de Jesus Ribeiro. Muito jovem ingressaria no Seminário de São Barnabé, dando sequência à sua vocação eclesiástica. Seria ordenado sacerdote na Sé Primaz, no dia 27 de abril de 1927, pelo arcebispo D. Manuel Vieira de Matos.

Logo após a ordenação seria designado Prefeito do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, missão em que estaria investido até novembro de 1928, momento em que seria nomeado vigário cooperador da paróquia da Sé Primaz até março de 1929. Em 1932 foi coadjutor do Vigário-Geral de Valença, sendo, pouco depois, nomeado pároco da vila de Paredes de Coura e Arcipreste de Valença e Paredes de Coura. 

Haveria de tornar-se no 18.º pároco de São José de São Lázaro a 15 de junho de 1943, iniciando uma missão na qual estaria investido até à sua morte. Tal como sucedeu em Paredes de Coura, também seria designado Arcipreste de Braga pelo arcebispo

D. António Bento Martins Júnior. A 27 de novembro de 1964, o arcebispo D. Francisco Maria da Silva haveria de nomeá-lo cónego honorário da Sé de Braga. 

Após 37 anos intensos de dedicação aos seus paroquianos e ao presbitério bracarense, haveria de falecer a 27 de maio de 1980, sendo sepultado no cemitério de Barreiros.

A 4 de maio de 1989, a Câmara Municipal de Braga integraria o nome do Cónego João Manuel de Barros na toponímia da cidade, com uma rua no Bairro Económico.

 

Mentor da nova Igreja e complexo paroquial

O Senhor Arcipreste seria também o grande obreiro da nova igreja e complexo paroquial de são Lázaro, perante a contingência da demolição do templo, numa decisão da Câmara Municipal de Braga, liderada por Benjamim Cardoso. A velha igreja de São Lázaro seria demolida no início de janeiro de 1975, tendo as celebrações passado a fazer-se numa cripta, enquanto decorriam as obras da nova igreja.

O projeto do novo Complexo Paroquial de São Lázaro foi da responsabilidade do arquiteto João Maia Santos, assentando num terreno doado por Marcelino Sá Pires, que, além de um templo adaptado à reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, contemplava a residência paroquial, um lar de idosos e um infantário. Apesar de todas as vicissitudes que retardaram a obra, a nova igreja de São Lázaro seria solenemente inaugurada a 25 de dezembro de 1978, pelo arcebispo Dom Eurico Dias Nogueira, coadjuvado pelo seu pároco e mentor, o cónego João Manuel de Barros. Rui Ferreira